AÇÃO! SUSPENSE! MISTÉRIO! E MUITO ORGASMO! – A deliciosa e sangrenta aventura latina de Jane Spitfire – A Espiã e Mulher Sensual, de Augusto Boal

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Augusto Boal conseguiu eternizar uma mocinha que é vilã de si própria e de toda uma nação que insiste na conservação, adoração e manutenção do maldito “American Way Of Life”.

Augusto Boal
Augusto Boal

“ -Você é marxista, Jane?!
-Deus meu livre! – Foi a resposta imediata.
-Então por que é que você diz essas coisas?! – Era Jay, entrando na conversa. – Isso que você está dizendo são lugares-comuns marxistas…
-Eu li Marx de cabo a rabo. Engels, Lênin, Mao, todos eles. Li tudo. E creio firmemente que eles têm razão: o capitalismo é uma das formas sociais mais cruéis e desumanizadoras que a humanidade já conheceu! Creio firmemente na luta de classes!
-Então, meu bem, você é marxista – disse Jelly, um pouco mais aparvalhado que o seu natural. –Teremos que prendê-la. Conduzi-la à delegacia mais próxima.
-Creio na luta de classes, creio que existem exploradores e explorados mas estou decididamente ao lado dos exploradores! Sou capitalista!
-Ah, então está bem. Pra mim tanto faz…- resmungou Jelly, como sempre, mais interessado em apalpar as coxas da jovem loira.”

Argentina, Buenos Aires, final de 1975. Boal, um dos mais importantes teatrólogos brasileiros, pai e idealizador do teatro do oprimido, estava sem um bom puto no bolso e sem passaporte, vagando pelas ruas da cidade, foragido do governo brasileiro.
Nasce então, Janet Cartwright. Formosamente conhecida como Jane Spitfire, uma espiã infalível e inabalável. Um vômito irônico de Boal, para denunciar os acontecimentos em diversos países da America Latina.

Publicado em épocas de ditadura, a protagonista, a clássica dona de casa norte-americana, encharcada dos pés a cabeça de Tio Sam, comum e submissa ao marido, resolve dar uma festa para seus filhos gêmeos. A festa, é interrompida quando Janet recebe uma ligação urgentíssima e abandona bolo, marido e filhos sem maiores explicações. O que sua família não sabe é que ela é, na verdade, Jane Spitfire, uma espiã de inteligência, força e recursos quase sobre-humanos. Convocada por seu chefe para uma missão urgente, ela é enviada à Happylândia, país da América Latina que se tornou uma ameaça devido à felicidade geral que estava sendo alcançada por seu povo. Sua missão é recuperar as cinco fórmulas que revelarão aos governantes do país como concretizar esta felicidade. A espiã se envolve em uma sequência de situações impossíveis, sempre com violência e muito sexo, das quais sai invariavelmente vitoriosa e cada vez mais desejada. Por fim, Jane consegue reunir as cinco fórmulas, que entrega a golpistas militares que tomam o poder no país através de uma grande revolução.

A trama é carregada de muito suspense e de uma adjetivação espetacular. Uma magnificações de ações, coincidências incríveis, e todo esse clichê típico da linguagem de espionagem.

Ver Boal em uma linguagem nova, só podia dar no que deu. Com uma maestria de avó no fogão, ergueu de forma fabulista, a história do golpismo norte-americano nos países da América Latina, usando para isso a novela de espionagem. Haja latinidade!

As linhas do artista trazem um humor critico irreverente. Instiga. Intriga.

É o gênero contra si mesmo. O feitiço contra o feiticeiro.

Jane, definitivamente, é o James Bond de calcinhas.

A genialidade da obra é que todas as linhas continuam tão divertidas e espontâneas quanto na época de sua criação.

jane_spitfireAugusto Boal conseguiu eternizar uma mocinha que é vilã de si própria e de toda uma nação que insiste na conservação, adoração e manutenção do maldito “American Way Of Life”.

A deliciosa e Sangrenta Aventura Latina de Jane Spitfire
Augusto Boal
Geração Editorial
2003
222 Páginas

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