Amores, truques e outras versões

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Amores, truques e outras versões, de Alex Andrade, toca profundamente na questão da liquidez amorosa que nos persegue e nos assombra.

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Alex Andrade e seu livro “Amores, truques e outras versões”

Há alguns meses atrás, em um podcast, eu pedi que os ouvintes me indicassem histórias de amor. Hoje, tenho clareza maior de que o que eu buscava era uma história honesta sobre o sentimento (não algo sentimentalóide apenas), mas na qual o ressentimento do autor com relação ao amor não respingasse na obra. Queria uma história de amor sem rancor ou ressentimento por parte de quem escreve. Por uma coincidência daquelas inexplicáveis, me veio em mãos o livro de Alex Andrade, Amores, truques e outras versões, cuja leitura foi exatamente como sua capa: impactante e surpreendente.

As três histórias contadas giram em torno do paradigma amoroso na contemporaneidade: o que é preciso, em um mundo cada vez mais solitário e cheio de ilhas egocêntricas, para conseguir amar? O que deve ser feito, como se deve chegar lá?

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“Amores, truques e outras versões” (Confraria do vento)

É nessa busca por amor sem abrir mão do prazer imediato que o romance se constrói. As ansiedades aumentam, ainda, pelo fato de que os personagens são homossexuais e, em certa medida, devido à pressão da heteronormatividade, colocam dentro de si a pressão extra de amar de forma quase que política – camuflando ou escancarando.

Outro ponto importante é o uso dos aplicativos pró-flerte que, pra mim, só reforçam o quanto estamos cada vez mais tristes e solitários, isolados. Não conseguimos mais conhecer ninguém, só se for via tela touch. Isso dá ao personagem principal, inclusive, a validação do sentido de sua existência: meu nick recebe muitas mensagens, sou desejado e, por conseguinte, importante, relevante.

É exatamente por tocar tão fundo na liquidez amorosa que nos persegue e nos assombra hoje que o livro é real, honesto e, graças à narrativa bem construída de Alex Andrade, não é amargo e ácido, não joga no sentimento a culpa pelas frustrações, mas sim na construção social que cerca os indivíduos. Uma leitura não apenas recomendada como necessária; matou temporariamente minha sede por boas histórias que falem de amor.

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