Como Narcos e Notícias de um Sequestro, de Gabo, estão ligados

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Gabriel Garcia Márquez, Pablo Escobar e Narcos

MTMyNTQxMDI0NTc1NzQ2MDE4Ocorreu-me uma feliz coincidência! Sou grato pelas coincidências felizes que acontecem comigo. Há um mês aproximadamente estava lendo Notícias de um sequestro, do impressionante colombiano Gabriel Garcia Márquez. Enquanto me fascinava com a narrativa do autor – trata-se da história real de sete sequestros simultâneos que ocorreram a mando do maior narcotraficante da história mundial, Pablo Escobar – a, também impressionante, série Narcos – estrelada pelo ator brasileiro Wagner Moura, indicado para o Globo de Ouro pela sua atuação na série – foi lançada simultaneamente. A coincidência é feliz, como já disse, pois Narcos é a história de Pablo, narra alguns anos da vida do homem que mudou o mundo, que esteve a ponto de conquistá-lo vendendo drogas.

Há intertextualidade nas obras. Há fusão audiovisual também. E ainda há semelhanças na tentativa, nada simples, de humanizar o maior bandido da história mundial e de mostrar a sua influência. Notícias de um sequestro foi lançado em 1996, no auge da guerra do narcotráfico. É um texto lúcido. O autor adota o estilo de reportagem para colocar-se como um observador onisciente da ação. A linguagem é direta, objetiva. O livro é dividido em 11 capítulos e acompanha simultaneamente sete sequestros. A dinâmica adotada por Gabriel Garcia deixa o leitor angustiado, preso a todas as histórias.

Em seu prefácio, o autor relata que foi direto na fonte, seu texto é baseado em entrevistas que realizou com os sequestrados e os parentes mais próximos. Sem deixar de lado sua veia literária, quase intrínseca a tudo que toca, Gabo vai direto ao ponto, é conciso, direto, as descrições presentes são enxugadas para o leitor se atentar apenas na história do sequestro, nos pormenores, principalmente nas negociações políticas. São sequestrados ilustres, todos pertencentes a famílias da elite colombiana. Diana Turbay, por exemplo, é filha de um ex-presidente, Pacho Santos, é apresentadora de um importante telejornal. Apesar de serem as personagens mais presentes no livros, os sequestrados não são os reais protagonistas do livro. Tal posto quem ocupa é Pablo Escobar. Este pouco aparece na trama, não se descrevem sua aparência, seus gostos, seus modos, sua vida. Tudo é uma grande metáfora em relação ao homem invisível que estava em todos os lugares na Colômbia. Ninguém sabia ao certo quem era, onde estava, chegou-se até a se questionar sua existência.

O livro é fantástico e deixa claro, sem descrições explícitas, que Pablo Escobar usou da inteligência para saciar sua gana pelo poder. O que não descrito pelo livro de Gabo, a série Narcos faz. Pois entra na intimidade da pessoa Escobar, em alguns momentos deixa de lado todos os conflitos com o presidente Gaviria, as negociações para a não Extradição para os EUA, os problemas com o cartel rival de Cali, para mostrar Escobar jogando futebol com o seu filho, jantando com sua mãe, abraçando sua esposa, e, o que é mais incrível, convence. Terminei a série pensando “Porra, Escobar era gente.” Esse é o propósito do enredo. Tudo é muito bem construído, a história, o cenário, o roteiro, a fotografia, a atuação do elenco, a série é viciante… Apesar dos escorregões históricos, e eles existem em demasia, Narcos cumpre o que, na minha leitura, era seu objetivo: mostrar o Escobar humano.

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