Conto: Branca de Neve e Príncipe na Terapia de Casal

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Ilustração de FP Rodrigues

Há tempos a Branca de Neve e o Príncipe não estão se entendendo. Por causa das brigas cada vez mais constantes, resolvem iniciar uma terapia de casal.

– Qual é o motivo de vocês estarem aqui?

– Ele!

– Ela!

– Um de cada vez, por favor.

– Bem, doutor… – o Príncipe começa – A verdade é que o nosso casamento está em crise. Nós não concordamos em praticamente nada, não conseguimos achar afinidades… As discussões são muito frequentes, e por qualquer motivo!

– E desde quando o relacionamento de vocês está assim?

– Sempre foi assim. – interfere Branca – Nós não temos nada em comum.

– Então por que você aceitou se casar comigo? – questiona o marido.

– E você por acaso me pediu alguma coisa? A verdade é que eu não tive escolha. – ela olha para o terapeuta – Ele me pegou, me levou para o palácio e nós nos casamos. Mal nos conhecíamos!

– Eu salvei a sua vida!

– Salvou e depois transformou num inferno.

– Você é uma ingrata! Eu te salvei de um feitiço e ainda te fiz princesa! Está reclamando de quê? Prefere voltar pra casa da sua madrasta, que te odeia?

– Eu estou cansada de não poder decidir sobre a minha própria vida! Tenho que aceitar tudo que aparece. Primeiro meu pai, que foi muito bom para mim, mas não me ensinou nenhuma autonomia, depois aquela madrasta terrível e invejosa, aqueles anões exploradores, que me fizeram de empregada, e agora você, que só porque é príncipe e me salvou se acha o meu dono. Caramba, eu tenho vontade própria, sabia? Será que ninguém nunca cogitou me consultar a respeito das coisas?!

Um silêncio pesado toma conta do consultório. O terapeuta precisa interferir:

– Vamos ter calma. Pelo que eu entendo, vocês dois se casaram muito cedo, de maneira precipitada, por isso estão tendo dificuldades na vida conjugal. Por que não aproveitamos esse tempo das sessões para que vocês se conheçam melhor e descubram seus interesses comuns?

– E ela se interessa pelo quê? Reclama que não tem autonomia, mas também não se esforça pra nada. Só sabe fazer faxina e ficar brincando com animais.

– Você também não é o mais ocupado dos príncipes, não é mesmo? Só fica dando ordens ou montando a cavalo, não vejo fazer outra coisa.

– Claro, administrar um reino é coisa à toa!

– É o seu pai que cuida de tudo, você só usufrui da vida boa!

– E você também, não seja cínica! Ainda tive que abrigar aqueles seus sete mini-amigos, que são pequenos no tamanho, mas têm um apetite enorme! Você só me dá prejuízo!

– Quem beijou uma estranha na floresta e quis se casar com ela foi você! Agora também não adianta reclamar.

– Está vendo como é?! Esse relacionamento não tem mais jeito, Doutor.

– Eu quero o divórcio!

– Você está maluca? Príncipes não se divorciam!

– Pois eu vou embora!

– Ótimo! Vá mesmo! E leve seus bichos, seus anões, toda aquela tralha com você!

O casal continua discutindo. O terapeuta apenas observa, impassível, e conclui que, de fato, não existe casal perfeito de conto de fadas.

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