Entre nós & entrelinhas: Feira do Livro: livros ou brinquedos?

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01Dilan Camargo, patrono da Feira do Livro de Alvorada, conversa com as crianças (imagem do blog oficial da Feira)

Fim do ano se aproximando e os últimos eventos literários também. Hoje eu trago para vocês alguns dados sobre a Feira do Livro de Alvorada/RS, que aconteceu entre os dias 09 e 13 de outubro na Praça João Goulart. Milhares de pessoas circulando pela praça, famílias, escolas e visitantes a fim de ver os títulos novos, os antigos e os shows. Que shows?
Eis que esse ano a prefeitura de Alvorada/RS, sob a administração do prefeito Professor Serginho, inovou com o vale-livro e fez tornar a 13ª Feira do Livro muito mais literária. A atividade cultural foi retomada, uma vez que o município não realizou o evento em 2012. Esse ano a feira teve como patrono o escritor Dilan Camargo, como xerife Carmem de Freitas e a cidade homenageada foi Torres/RS.

As crianças tiveram o sonho de comprar livros realizado, pois sabemos que muitas não têm condições financeiras para comprar um exemplar. As escolas puderam levar seus alunos sem aquela preocupação de que alguns alunos comprarão e alguns vão apenas olhar as obras nas tais barraquinhas.

O vale-livro de R$ 20,00 foi concedido a 18 mil alunos de escolas municipais e a iniciativa foi elogiada por professores, pais e escritores. Mas aí você me pergunta: o que tem a ver esse texto com o título dessa ‘matéria’?

Bem, todos sabem que muitos livreiros, talvez pela ânsia em vender, decidem expor em seus stands alguns livros, digamos… com uma qualidade literária duvidosa: as famosas maletas. Para quem ainda não conhece, essas maletas (em forma de maleta mesmo) ao ser aberta por uma criança enche os olhos com todo aquele colorido e recortes e, inclusive, até elas têm livros dentro! Vejam só! Elas têm livros! Parece piada, mas muitas possuem um apelo tão forte com formato de casinhas, carrinhos ou qualquer outro objeto que se enquadraria mais no segmento brinquedo do que obra literária.

Eis que aí surge um dado muitíssimo interessante: fiquei sabendo de um livreiro (identidade sob sigilo) que os livreiros foram proibidos de vender essas maletas para aqueles alunos que ganharam o vale-livro. Ou seja: o vale-livro era para ser utilizado com livros e não com brinquedos sob forma de livros. Excelente ideia! Eis que há uma luz no fim do túnel. Obviamente que para aqueles que queriam comprar as tais maletas com dinheiro era permitido, mas era proibida a troca de vale-livro por maletas. Mais uma forma de incentivar a boa literatura. Afinal, era um evento literário.

Sei que essa iniciativa procura incentivar a formação de um leitor mais consciente do que é literatura. Nada contra os brinquedos, mas brinquedo é brinquedo e tem o seu valor como brinquedo e livro é livro. Cada um no seu quadrado, não é assim que se fala? Obviamente, não podemos garantir que todos os livros sob forma de livros tenha qualidade, mas, pelo menos, a prefeitura estava tentando evitar que alunos da cidade comprassem gato por lebre.

Seria muito interessante que outros governos tomassem essa iniciativa como exemplo e que muitas escolas que levam livreiros para as suas feiras literárias também ‘copiassem’ essa ideia e proibissem a venda de certos tipos de obras em seus estabelecimentos em eventos do tipo. Nada contra a liberação, por exemplo, em comemoração ao dia da criança. O que precisamos é formar a consciência das crianças e até de alguns pais de que literatura é uma coisa e brinquedo é outra.

Luz e livros a todos
Fontes consultadas:
• http://alvoradafeiradolivro.blogspot.com.br/2013/10/foto-ccs-o-vale-livro-instituido-pela.html
• http://alvoradafeiradolivro.blogspot.com.br/2013/10/a-13-feira-do-livro-de-alvorada-foi.html

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Cláudia de Villar é professora, escritora e oficineira. Formada em Letras pela FAPA/RS, especialista em Pedagogia Gestora e em Supervisão Escolar. A escritora tem alguns livros já publicados para o público infantojuvenil e adulto. Atua também como colunista de alguns jornais do RS (Jornal de Viamão e Jornal Floresta) e colabora com um texto mensal para o site Artistas Gaúchos. Desde agosto de 2013 é uma das associadas da AGES (Associação Gaúcha de Escritores). Cláudia afirma que é professora por opção profissional e escritora por vocação. Ler, escrever, criar e sonhar faz parte da composição de seu SER.

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