Entre nós & entrelinhas: Relembrando o passado – Cláudia de Villar

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Voltando a falar daquela “sementinha” lançada na semana passada e para que eu possa contar sobre os meus dois lados da moeda (sou professora e escritora) é necessário que se faça, ao longo desses nossos encontros, alguns recortes da vida atual, mantendo um link com o passado Literário a fim de que eu possa poder responder ou tentar responder aquelas duas questões jogadas ao chão na semana passada.

“Por que é tão difícil despertar o gosto pela leitura de obras literárias em crianças? Por que temos mais telespectadores do que leitores?”

Sabe-se que na antiguidade, Platão, que era seguidor de Sócrates, já dizia: “(…) A própria pessoa do mestre, com sua palavra e sua ação, é a chave do processo educativo (…)” BUITRAGO (2008, p. 51). Portanto, aqui se encontra o início da nossa resposta à primeira pergunta. Se, conforme Platão, o ponto principal para que haja educação seja a figura do mestre, figura esta de um mestre que viva aquilo que ensina – educa-se pelo exemplo, lembram?- então, onde estão e quem são os nossos exemplos de leitores e /ou professores de Literatura na atualidade? Por acaso, recordando a sua infância, lembram-se quem eram as pessoas que liam ao redor de vocês?

Vejam como esta retrospectiva é importante, pois muitos terão que fazer esforço para lembrar e, dificilmente, dirão que um professor das séries iniciais do ensino fundamental ensinava Literatura. Pois bem, aí está o início da nossa resposta: se o exemplo ensina mais que as palavras, quais exemplos de leitores nos dias de hoje as crianças têm presente em suas vidas?
Na Era da roda de chão, local em que as pessoas sentavam-se para trocar ideias ao final do dia, as crianças aproveitavam para sentar juntas e, atentamente, escutavam as histórias contadas pelos adultos, histórias estas que foram passadas de pai para filho, fazendo com que estes pais se tornassem os seus exemplos e hoje? Quem são os nossos exemplos? Hoje todos sentam-se em frente à televisão ou pior ainda, cada um em seu quarto, num isolamento familiar, com seu aparelho de tv, seu tablet e seu smartphone.

E, quando essas crianças chegam à escola o que acontece? Lá, onde elas estão aprendendo os valores, a Literatura é a última coisa que muitos professores pensam em ensinar, deixando tal tarefa árdua para os professores seguintes das séries finais, onde a Literatura passa a ser obrigatória. Assim não há como despertar o gosto pela leitura.

Da mesma forma que o fantasminha Pluft em “Pluft, o fantasminha”, de Maria Clara Machado (saliento aqui que este foi o primeiro livro que eu li aos sete anos, na 1ª série) que dizia sentir medo de gente, o hábito da leitura tornou-se tão raro que algumas crianças dizem também ter medo de ler. E, para piorar o nosso quadro da dor sem moldura, há, e muitos, professores que desprezam a leitura, tirando qualquer chance do aluno ter contato com os livros. E isto é terrível! Uma sociedade em que a leitura está sendo deixada para trás, como supérfluo, não apenas nos lares (as famílias não leem), mas também nas escolas primárias, como evoluiremos, literariamente falando?

Enfim…. Perderam-se ao longo dos anos alguns dos nossos exemplos literários.
Portanto, convido vocês leitores, adoradores da Literatura, a sermos os exemplos literários. Vamos sair por aí semeando o prazer da leitura, vamos presentear as pessoas com livros, vamos ‘falar bem da Literatura’ e, por Deus, vamos prestigiar os nossos autores (olha eu aqui, gente!!!). Será o nosso novo pacto Literário. Sejamos semeadores de um jardim Literário.
E a segunda pergunta? Bah, tchê, acho que já escrevi demais por hoje, vamos deixar a segunda pergunta para a semana que vem. Tá aí, a próxima sementinha dos nossos encontros.

Obs.: Referências: José Penalva Buitrago (O professor como formador moral) e Maria Clara Machado (Pluft, o fantasminha).

Até a próxima quarta-feira.
Luz e Livros para vocês.

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