Um arquipélago de livros – entrevista com Tito Montenegro, editor da Arquipélago Editorial

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A Arquipélago Editorial é responsável por uma ampla safra de livros não ficcionais, entre eles de cronistas do porte de Humberto Werneck, a série de ensaios Fronteiras do Pensamento, os dois volumes de entrevistas do Rascunho e diversos livros reportagens. Nesta entrevista ao Homo Literatus, o editor Tito Montenegro nos conta a trajetória da Arquipélago.

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Como e quando nasceu a editora Arquipélago ?
A Arquipélago Editorial começou em agosto de 2006, com o lançamento do livro “A vida que ninguém vê”, da jornalista Eliane Brum. A editora foi criada por três sócios – além de mim, são sócios da empresa os advogados Fernanda Nunes Barbosa e o Cristiano José Ferrazzo. O nascimento da editora coincide com a minha mudança profissional. Decidi deixar o jornalismo e o trabalho em redações para tentar montar um negócio próprio. A escolha pelo ramo editorial foi uma consequência natural do gosto pela leitura que os sócios têm em comum.

Por que a escolha em publicar crônicas, reportagens e demais categorias não ficcionais?
A decisão de focar, inicialmente, em não ficção se deve, em primeiro lugar, à minha formação como jornalista. É natural que eu demonstrasse mais interesse e aptidão para avaliar e editar livros dessa área. Aos poucos, a linha editorial vai sendo ampliada. A publicação de literatura começou pelo gênero, pelo gosto pessoal e também por ser o gênero mais próximo do universo jornalístico.

Hoje, temos a Rubem, revista virtual sobre crônica, e espaços plurais para a publicação dela, das versões online de periódicos impressos a sites específicos, como Vida Breve e blogs particulares dos autores. O que esses movimentos em torno do gênero significam? Eles influenciam na publicação de livros de crônicas?
Acredito que a crônica está mais viva do que nunca – e os espaços que ela tem ocupado, como os que você citou, demonstram isso. Essa divulgação do gênero certamente ajuda a viabilizar a edição de livros dos cronistas. É preciso lembrar que o cronista precisa ter público, que antigamente era apenas o do jornal ou revista onde ele publicava, mas agora ele pode ser encontrado na internet, em blogs, sites e nas redes sociais.

O Fronteiras do Pensamento pode ser descrito como uma série de conferências ministradas por escritores, estudiosos e demais atuantes em áreas distintas, mas convergentes quanto à análise da sociedade. Entre os palestrantes cujas palavras foram transpostas nos livros publicados pela Arquipélago, estão Mia Couto, Wim Wenders e outros. Como nasceu a parceria entre o Fronteiras e a Arquipélago?
Eu sempre admirei o trabalho do pessoal do Fronteiras do Pensamento. É um caso único de evento intelectual bem-sucedido nascido e criado fora do eixo Rio-São Paulo. Em certo momento, descobrimos que a admiração era mútua, o que nos levou a conversar sobre a possibilidade de a Arquipélago participar da concepção de uma coleção de livros com o material do Fronteiras. Assim nasceu a Série Fronteiras do Pensamento, que já tem três livros publicados: “Pensar a cultura”, “Pensar a filosofia” e “Pensar o contemporâneo”. Nosso objetivo é organizar as conferências do Fronteiras em volumes temáticos e ampliar o debate com a publicação de entrevistas e ensaios inéditos.

Os livros reportagens abordam corrida, cidades interioranas, análises sobre investigações jornalísticas, olhares particulares sobre tempos da ditadura e outras histórias. Algumas delas foram publicadas originalmente em jornais, será que todas elas ainda cabem no formato tradicional do jornalismo?
Depende de cada caso. Um dos livros ao qual você se refere é o Operação Portuga, do jornalista Sérgio Xavier Filho, então diretor de redação da revista Runner’ World. Trata-se de uma história de corredores que não caberia na revista, a não ser que se fizesse um volume especial. A reportagem surgiu na revista, mas foi muito ampliada para a publicação do livro. O livro serve, portanto, não apenas para organizar reportagens já publicadas, mas também para ampliar o alcance de histórias que não poderiam ser contadas em sua totalidades nas páginas de jornais ou revistas

Apesar do aumento de publicações de autores brasileiros, tanto em grandes quanto médias e pequenas editoras, os livros estrangeiros ainda predominam em listas de “mais vendidos”. Como a editora se equilibra neste mercado?
A lista de best-seller reflete uma parte ínfima do mercado editorial. É possível sobreviver muito bem, obrigado, sem ter títulos entre os dez mais vendidos. Nossas tiragens iniciais variam de 2.000 a 4.000 exemplares e muitos dos nossos títulos já tiveram várias reimpressões. É claro que queremos vender muitos livros, mas não queremos editar o tipo de livro que costuma frequentar as listas.

Fusão de grandes grupos editoriais, editoras para nichos específicos, autopublicações através da internet. Qual sua avaliação do momento que vive o mercado editorial brasileiro?
O mercado brasileiro vive, em doses menores, o que mercados mais maduros já viveram. Nos Estados Unidos e em alguns países europeus a concentração editorial é enorme. Aqui, apesar de termos alguns grandes grupos, nenhum deles tem nem 5% do mercado total. Acredito que isso é extremamente saudável. No entanto, parece claro que a concentração vai aumentar um bocado. A busca por nichos específicos é uma das saídas para as pequenas e médias editoras. Em relação à autopublicação, acho que ela não atende aos interesses dos autores, pois ainda acredito que o trabalho das casas editoriais é fundamental para a qualidade e a boa divulgação dos livros. Nesse aspecto, o mercado ganharia se houvesse mais agentes literários para auxiliar o autor a fazer chegar o seu original às editoras certas.

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