Inocência e devassidão – A paixão masculina por ninfetas

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Não é incomum ouvir homens dizendo que sempre preferem mulheres mais novas, ou mesmo mulheres dizendo que preferem homens mais velhos, por conta da sua maturidade.

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Lolita, de Stanley Kubrick

O tema é  polêmico e é tão velho quanto a própria humanidade. Vários povos mantiveram, durante muito tempo, a tradição de casar mulheres mais jovens com homens mais velhos. Foi também um costume interiorano aqui no ocidente: há relatos de meninas de dez, onze, ou doze anos que, mesmo ainda brincando de bonecas, foram desposadas por homens já com mais de quarenta anos.

Se o costume não é mais tão comum, ainda restam resquícios dele. Há quem ainda perpetue, às vezes inconscientemente, essa busca. Não é incomum ouvir homens dizendo que sempre preferem mulheres mais novas, ou mesmo mulheres dizendo que preferem homens mais velhos, por conta da sua maturidade.

Muito já se disse também sobre a maturidade mental/biológica da mulher. Segundo teorias, a mulher amadureceria mais cedo do que o homem. Esse fato faria com que as próprias mulheres procurassem homens mais velhos e não os da sua própria idade. É claro que isso tudo é relativo nos tempos atuais. Mas é impossível negar os ecos de algo que se perpetua há tanto tempo.

De qualquer maneira, a pergunta fica: de onde vem essa paixão de homens mais velhos por mulheres mais jovens, as ninfetas, sobretudo por garotas na primeira fase adulta ou até mesmo na adolescência? Seria uma maneira de manter o próprio espírito jovem? Seria uma maneira de apaziguar o espírito e dizer a si mesmo que ainda se tem o espírito conquistador? Ou seria ainda uma maneira de afugentar a velhice ou até mesmo a morte?

O que nos atrai tanto, o que nos leva em direção a essas jovens mulheres? Seria um misto entre inocência (do tipo rostinho e pele angelicais) e malícia (enorme poder de sedução, persuasão e devassidão)? É a explicação que vários homens dão, e que está quase para um fetiche.  Seja qual for a razão, o que se diz aqui é mais do que uma verdade, é um fato. Obviamente a preferência não é unanimidade, porém, parece ser muito comum.

Eis alguns exemplos: Hugh Marston Hefner, fundador e dono da revista Playboy, manteve relações com Kendra Wilkinson, uma coelhinha da sua revista, sessenta anos mais nova que ele; futuro presidente da CBF, Marco Polo Del Nero é visto constantemente na companhia de várias mulheres bem mais jovens do que ele. Na arte, há diversos exemplos (tanto na literatura quanto no cinema: a minissérie Presença de Anita talvez seja a imagem mais nítida na mente dos brasileiros).  Aqui vai uma pequena lista de livros consagrados que abordam esse tema. Boa leitura!

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Gabriela, da Rede Globo

Lolita – Vladimir Nabokov

Um dos livros mais conhecidos a abordar esse tema, é a obra-prima do escritor Vladimir Nabokov, russo radicado nos Estados Unidos. É a história de Humbert, um professor britânico que vai morar e trabalhar nos Estados Unidos. Procura um lugar para se instalar e acaba se decidindo pela pensão da família Haze justamente pela presença inquietante de uma garota de doze anos chamada Lolita. Ela tem o tal misto entre inocência e devassidão. Hunter decide morar ali e se relaciona com a mãe de Lolita, chegando até a se casar com ela: tudo isso para se manter próximo à ninfeta. Durante algum tempo, eles mantêm um caso sigiloso. Mas, depois da morte da matriarca da família Haze, o que parecia ser um paraíso para Hunter, ou seja, viver sozinho com Lolita, acaba se tornando um inferno para ele.

 

Memórias de minhas putas tristes – Gabriel García Márquez

Livro que difere muito do estilo adotado por García Márquez e que fez do prêmio Nobel colombiano um dos escritores mais lidos da história da literatura latino-americana. A história não se passa em Macondo, nem possui os traços marcantes do realismo mágico que construiu um mundo à parte na literatura. Aqui o protagonista é um jornalista de noventa anos que decide se dar de presente uma menina de quatorze anos. Contudo, a relação acaba sendo diferente do que ele imaginava: conhecerá pela primeira vez em toda a sua vida o verdadeiro amor.

 

A ninfa inconstante – Guillermo Cabrera Infante

Romance póstumo de um dos maiores escritores cubanos. Infante foi também ensaísta e roteirista. Depois de romper com o governo de Fidel Castro, instalou-se em Bruxelas, onde viveu até sua morte em 2005. Nesse romance, o personagem principal, um homem de meia-idade altamente intelectualizado descobre-se apaixonado por uma ninfeta de apenas dezesseis anos. Estela é pobre e não conhece nada do mundo culto ao qual pertence o seu amado. Um intelectual que, apesar das referências mais refinadas na hora de liricizar o diálogo em seus encontros com Estelita, vê-se afundado no que é mais clichê e piegas dessa relação.

 

Travessuras da menina má – Mário Vargas Llosa

Romance semi-autobiográfico, o livro é um best-seller do peruano Nobel de Literatura. É de um romance de viagem, no qual o protagonista, durante décadas, viaja por Lima, Madri, Paris, Tóquio e Londres. Faz toda essa jornada por conta do seu amor incontido por Lily, uma mulher mais jovem e interesseira que ilude os homens por onde quer que vá.

 

Gabriela, Cravo e Canela – Jorge Amado

As obras de Jorge Amado não são conhecidas somente pela riqueza da história, cultura e sincretismo do povo baiano, nem somente pelas paisagens que enriquecem suas descrições. Fala também de mulheres, sexo e, por que não, libertinagem. Gabriela, Cravo e Canela é um exemplo disso. Gabriela, protagonista que nomeia a obra, é uma jovem morena sensual. É uma sertaneja migrante, que acaba por se instalar em Ilhéus, para trabalhar na casa de Nacib, um imigrante libanês. É cortejada por vários homens, mas acaba se relacionando com seu patrão. Uma das coisas que mais fizeram a cabeça dos homens foi seu jeito despojado, nada recatado. Seu corpo de mulher e seu jeito inocente perpetuava nos sonhos masculinos de toda a cidade.

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