Na balada com Mario Vargas Llosa – A massificação de uma cultura descerebrada

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Na balada com Mario Vargas Llosa – A massificação de uma cultura descerebrada

O que o escritor peruano e Nobel de Literatura pensa sobre as baladas e o comportamento dos jovens de nossa cultura

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Mario Vargas Llosa

Em A civilização do espetáculo, Mario Vargas Llosa desvela a cultura contemporânea, procurando mostrar através do comportamento das pessoas, o lodaçal em que o mundo de hoje se meteu.

Entre as discussões que o ensaísta propõe está a banalização da cultura. Se por um lado nunca publicou-se tantos livros, produziu-se tantos filmes, ou lançou-se tantas músicas, por outro, o viés artístico jamais se centrou de tal forma na frivolidade. Chamará a atenção das pessoas aquilo que se nutrir de mexerico, futilidade e pornografia, produzindo uma maneira de se viver centrada naquilo que é artificial, alienando-se assim do acesso ao conhecimento, às discussões das questões humanas e do que elas representam para as pessoas do seu tempo.

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Esta exposição que pode parecer cruel segue-se por mais de meio século, começando nos EUA e espalhando-se pelo mundo, graças à colonização cultural que enfatiza o American Way Of Life – um estilo de vida consumista.

Neste ponto, Llosa expõe sua opinião a respeito de toda uma civilização sedenta de entretenimento que, descerebrada, cultiva uma formação tátil, não mais retórica, de argumentação e exposição, expressando-se numa massificação que ganha espaço na música: “As bandas e os cantores da moda reúnem multidões que ultrapassam todas as previsões em shows que, tal como as festas pagãs dionisíacas que na Grécia clássica celebravam a irracionalidade, são cerimônias coletivas de desregramento e catarse, culto aos instintos, às paixões e ao desvario”.

É interessante ver a forma como o escritor associa a experiência de socialização que ocorre nas baladas aos ritos religiosos:

“Não é descabido equiparar essas celebrações às grandes festividades populares de índole religiosa de outrora: nelas se inverte, secularizado, o espírito religioso que, em sintonia com o viés vocacional da época, substituiu a liturgia e os catecismos das religiões tradicionais por manifestações de misticismos musical: assim, no compasso de vozes e instrumentos exacerbados, que os alto-falantes amplificam monstruosamente, o indivíduo se desindividualiza, transforma-se em massa e, de maneira consciente, volta aos tempos primitivos da magia e da tribo. Esse é o modo contemporâneo – muito mais divertido, por certo – de alcançar o êxtase que Santa Teresa ou São João da Cruz obtinham através do ascetismo, oração e fé”.

O que leva as pessoas às festas? Diversão, certo. Llosa não vai pelo caminho contrário, sua resposta é exatamente esta. Contudo, o que o peruano alega é que este vazio que somente se preenche com diversão, e outrora foi com atividades religiosas, ocupa o lugar que deveria pertencer à cultura. Mas dadas as circunstâncias em que nos encontramos, enquanto civilização, nossos olhos apenas conseguem fitar um lado das questões, pois nossa capacidade de raciocinar criticamente parece cauterizada pelo vício do entretenimento.

Por que alguém passaria um tempo solitário pensando? Não seria melhor estar na balada? Mario Vargas Llosa as define assim: “Na festa e no show de massas os jovens de hoje comungam, confessam-se, redimem-se, realizam-se e gozam desse modo intenso e elementar que consiste no esquecimento de si mesmo”.

E aí, para qual balada você vai hoje?

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