Os esgotos de Londres em Rei Rato, de China Miéville – Vilto Reis

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Depois de ler o Metanfetaedro, da Alliah, embarquei na estranha jornada de ler mais um livro New Weird, Rei Rato, de China Miéville, ambos da Tarja Editorial. Surpreendente é pouco diante do que eu tenho a falar nesta resenha.

E se abaixo de uma cidade metropolitana como Londres houvesse outro mundo? Mas e se este mundo não fosse exatamente fantasioso; se fosse apenas uma extensão do nosso mundo, simplesmente com esgotos. E se cada espécie animal tivesse um rei, semelhante a um humano? E se uma história dessas contasse com uma antibatida musical? E se tudo isso tivesse reflexão, estilo literário e personagens comoventes? E se… nada; China Miéville já fez tudo isso.

Mas antes de qualquer coisa, vale uma apresentação do personagem que dá título ao livro, Rei Rato:

“Deixa eu te falar de mim.
“Eu posso ouvir as coisas não ditas.
“Eu conheço a vida secreta das casas e a vida social das coisas. Leio nas entrelinhas das paredes.
“Eu moro na velha cidade de Londres.
“Deixa eu te dizer quem eu sou.
“Eu sou o chefão do crime. Sou aquele que fede. Sou o chefe dos fuçadores de lixo, eu vivo onde você não me quer. Sou o intruso. Eu matei o usurpador, eu te levo sob minha custódia. Matei metade do seu continente uma vez. Eu sei quando seus navios estão afundando. Posso quebrar suas armadilhas em meu joelho e comer queijo na sua cara e te deixar cego com o meu mijo. Eu sou o que tem os dentes mais duros do mundo, sou o menino que usa suíças. Sou o Duce dos esgotos, eu controlo o subsolo. Eu sou o rei.” (pg. 40)

rei_ratoRei Rato conta a história de Saul Garamond, um jovem morador de Londres que não se dá muito bem com seu pai. No início da história, ele chega em casa muito tarde numa noite, o pai está na sala e Saul nem fala com ele, vai direto para o quarto. É então que enquanto dorme, é despertado por batidas na porta, é a polícia; e Saul é preso, suspeito da morte do pai, que ele fica sabendo ter se jogado da janela do apartamento. Já na cela da prisão, após o interrogatório com o Detetive Crowley, Saul recebe uma estranha visita, Rei Rato; e a partir daí sua vida muda totalmente. O protagonista precisa lidar com uma ameaça que o persegue, mas sem esquecer de seus amigos, que por causa de Saul, agora estão em risco.

“Tudo isso ficava a um milhão de quilômetro de distância do mundo cafona dos truques de mágica. Sua vida era serva de outro encantamento, um poder que tinha se esgueirado para dentro da sua cela na delegacia e o possuído, uma magia suja, crua, um encanto que fedia a mijo”. (pg. 121).

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Há alguns aspectos que me chamam a atenção em Rei Rato. Meu contato recente com o gênero New Weird tem sido bastante interessante, afinal com o passar do tempo e das leituras, tornei-me um leitor mais exigente quanto à forma como as histórias são escritas. Os gêneros terror, ficção científica e fantasia por muito tempo foram “mal escritos”; entendam, não é uma tentativa de generalização, mas uma realidade. Estas histórias eram feitas para circularem nas revistas pulps, uma ficção rápida, sem muito esmero; apesar disso, eu sempre fui um apaixonado por histórias fantásticas; porém qual não foi minha surpresa quando me deparei com o New Weird? Um gênero que une o melhor dos dois mundos, em que os autores estão preocupados em criar grandes histórias, mas aparatadas por uma linguagem com refinamento. Foi como se sentir completo. Foi assim que me senti lendo Metanfetaedro e Rei Rato.

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Enfim, é um livro para quem não gosta de fantasia, passar a gostar; e para quem ama o gênero, amar mais ainda. A história envolvente reflete um conflito moderno, o vazio de se estar sozinho, o homem que embora se sinta poderoso com todas as suas descobertas sobre si mesmo, ainda acaba se sentindo impotente por não poder proteger aqueles que ama; por ser escravo de seu próprio eu.

Conheça Rei Rato.

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