Resenha: Ensaio sobre a cegueira – José Saramago

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Finalmente tomei uma das melhores decisões literárias da minha vida, me dispus a ler Saramago. Você pode ter certeza de duas coisas: 1) o Vilto que escreveu a última resenha não é nem de longe o mesmo que escreve esta; 2) Este blog passará a ter muitas outras resenhas dos livros deste autor, por consequência das leituras que estão por vir. Sobre a linguagem do escritor temi a princípio, mas logo me habituei e absorvi cada palavra.

Mas quando a aflição aperta, quando o corpo se nos desmanda de dor e angústia, então é que se vê o animalzinho que somos.

Escolhi esta citação para iniciar minha perspectiva sobre esta obra colossal de Saramago, se é que me é concedido tal privilégio.O único escritor de língua portuguesa a ser contemplado com o prêmio Nobel de literatura presenteia a humanidade em Ensaio sobre a cegueira. As entranhas do caráter humano são expostas de tal maneira que se torna irrelevante qualquer refutação.

Saramago apresenta-nos uma sociedade “normal” como a nossa, até um determinado momento quando um homem fica cego, mas de uma cegueira diferente. Todos os cegos ficam envoltos à escuridão, mas esta cegueira faz com que a visão fique totalmente branca, que passa a ser chamada de mal branco. A narrativa é iniciada apresentando um sujeito que está em pleno trânsito aguardando que o sinal vermelho seja substituído pelo verde. E derrepente vê-se envolto por uma cegueira, nada mais se vê e o caos começa. Porque todos passaram a cegar, não se sabe. Há uma possibilidade:

Por que foi que cegamos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem.

Ensaio sobre a cegueira é uma obra que produz reflexão e incita sensibilidade, digna do homem que a escreveu ou será que Saramago é digno da obra que foi escrita, neste caso tanto faz, os dois são uma coisa só. Ler Saramago é estar disposto a encontrar-se consigo mesmo. É estar posto diante de um espelho e se livrar da cegueira que a cultura nos impõe. Afinal:

Se queres ser cego, sê-lo-ás.

10 frases do livro que valem a pena ser lidas:

  1. Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara. (livro dos conselhos)
  2. É desta massa que nós somos feitos, metade de indiferença e metade de ruindade.
  3. Quantos cegos serão precisos para fazer uma cegueira.
  4. O medo cega… são palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegámos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos.
  5. Alguns irão odiar-te por veres, não creias que a cegueira nos tornou melhores, Também não nos tornou piores.
  6. A cegueira também é isto, viver num mundo onde se tenha acabado a esperança.
  7. Água mole em brasa viva tanto dá até que apaga, a rima que a ponha outro.
  8. Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.
  9. É que vocês não sabem, não o podem saber, o que é ter olhos num mundo de cegos.
  10. Costuma-se até dizer que não há cegueiras, mas cegos, quando a experiência dos tempos não tem feito outra coisa que dizer-nos que não há cegos, mas cegueiras.

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