Resenha: Quincas Borba – Machado de Assis

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Antes de qualquer coisa, digo que ler Machado de Assis é incrível quando se faz isto por prazer. Dá uma pontinha de orgulho de ser brasileiro – mesmo pra mim que acho o patriotismo uma idiotice. Estufo o peito e digo que a literatura machadiana é arte brasileira da melhor qualidade. Mas vamos aos fatos.

Menos conhecido que Dom Casmurro ou Memórias Póstumas de Brás Cuba, Quincas Borba é um romance que não deve em nada aos seus irmãos mais famosos. No livro, temos a impressão que Machado nos contará a história de o personagem filósofo que dá nome ao livro – também figurante em Memórias Póstumas -, conquanto seja isto que se espere, o leitor é quincas_borbaimpactado quando logo no começo do livro, Quincas Borba morre; deixando todos os seus bens ao amigo Rubião; possuindo o testamento apenas uma restrição: que cuidasse do cachorro de mesmo nome do dono. Então, o acanhado e pacato Rubião tem uma guinada em sua vida, passando a se tornar figura eminente no Rio de Janeiro do século XIX. No decorrer do romance daí para a frente, o agora protagonista, apaixona-se por uma mulher casada, enfrenta o puxa-saquismo de alguns oportunistas, entre outras situações que esbanjam a veia cômico-irônica de Machado de Assis.

Pontos a serem destacados:

1) A forma como o escritor narra a história é deveras peculiar e pouco usual, embora não seja o que pareça. É uma “narrativa global” que conversa com o leitor, contando-lhe a história de cada personagem que aparece no livro; sem deixar dúvidas. Se não abre oportunidades para o leitor imaginar? Bom, de forma alguma foi isto que eu quis dizer. As convicções que movem os personagens; são alvo de especulações por parte do leitor.

2) A quantidade de personagens com personalidades diferentes surpreende em Quincas Borba; são pobres, ricos, esnobes, oportunistas, entre outros.

3) O inusitado com que o leitor sabe sobre o “Quincas Borba” homem e cachorro serem dois personagens diferentes, embora o personagem principal às vezes duvide disso.

4) A quantidade de outras referências literárias de livros e autores, como: a Bíblia; Hamlet, de Shakespeare; e o Corvo, de Edgar Allan Poe.

Meu trecho preferido:

“- Queres ser meu discípulo? – Quero. – Bem, irás entendendo aos poucos a minha filosofia; no dia em que a houveres penetrado inteiramente, ah! nesse dia terás o maior prazer da vida, porque não há vinho que embriague como a verdade. Crê-me, o Humanitismo é o remate das cousas; e eu que o formulei, sou o maior homem do mundo. Olha, vês como o meu bom Quincas Borba está olhando para mim? Não ele, é Humanitas…”

Portanto, recomendo a leitura; sem dúvida alguma.

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