Revista Café Espacial atinge a maioridade em sua edição #12

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Revista_Cafe_especial_12Era 2007. Marília/SP. O roteirista e designer gráfico Sergio Chaves e a jornalista Lídia Basoli – que editaram por quase uma década o fanzine Justiça Eterna – começavam a esboçar um novo projeto. Tratava-se de uma revista voltada exclusivamente para a difusão da cultura nacional e internacional, e que englobaria diferentes manifestações de arte: desde HQs autorais, literatura e reportagens, até música, cinema, teatro e fotografias. Nascia, assim, a primeira edição da Revista Café Espacial.

De 2007 pra cá foram doze edições, quatro troféus HQMIX como Melhor Publicação Independente de Grupo, três indicações ao Festival International de La Bande Dessinée d’Angoulême, uma indicação ao  Festival International de la Bande Dessinée d’Alger, e duas indicações ao Festival de Angouleme, na França (o maior festival de quadrinhos da Europa). Sem contar o Troféu Bigorna e o 5º Prêmio DB Artes como Melhor Publicação Independente, recebidos em 2008 e 2009, respectivamente. Um belo currículo para uma revista independente de apenas seis anos de vida.

E não por acaso. As doze edições da Revista Café Espacial primaram, sempre, pela excelência, qualidade e criatividade dos trabalhos apresentados, e também pelo comprometimento e dedicação de seus principais parceiros e colaboradores.

Mas Sergio e Lídia não são os tipos de caras que ficam satisfeitos e se acomodam, acreditando que não há mais como melhorar. E a edição número 12 da Café Espacial veio comprovar isto.

Todo o projeto gráfico e a estrutura da revista foram remodelados pela Charlotte Estúdio, um estúdio de design gráfico incrível, para dizer o mínimo. A revista está impressa em um papel de melhor qualidade, e possui mais páginas, orelhas e até ISBN. O que nos leva, inevitavelmente, a compará-la com um livro. E como um livro – e diferentemente da maioria das revistas – as edições da Café Espacial são atemporais; não possuem prazo de validade. Você não vai utilizar suas páginas para forrar a gaiola do passarinho depois de ler. Não! Você vai colocar sua Café na estante, junto com seus livros favoritos, para reler sempre que der vontade.

A capa da edição #12 também se aprimorou: o título da revista diminuiu, mantendo somente sua logomarca, e dando destaque total para a ilustração – neste caso, feita pelo talentosíssimo Ebbios. A ilustração é, mais do que nunca, a grande e única protagonista das capas da Café Espacial – capas que, aliás, sempre mereceram destaque. A revista nunca incluiu chamadas sobre o conteúdo de cada edição – algo muito comum para a maioria das publicações – dando ênfase exclusivamente para as respeitáveis ilustrações, que fazem parte das capas e da história da Revista Café Espacial.

Contudo, talvez o maior diferencial da revista seja a total ausência de anunciantes. Não há nenhum, em parte alguma da publicação. A Café se mantém unicamente através da comercialização de exemplares (a edição #12 custa R$15, e vale cada centavo), e em algumas ocasiões obteve patrocínio coletivo através de sites colaborativos, como o Catarse. O que possibilita aos editores uma liberdade total e irrestrita no momento de selecionar o conteúdo da revista, já que não há empresas reclamando que determinado assunto é inapropriado para ser relacionado com sua marca e mimimi.

Considero inútil relembrar aqui o quanto é difícil produzir arte – qualquer que seja a forma de arte em questão – em um país como o Brasil, onde ninguém se importa de pagar R$50 por uma pizza ou R$1.500 por um celular; mas não paga R$30 por um livro, ou R$10 para assistir uma peça de teatro. Logo, ver a revista Café Espacial chegando em sua décima segunda edição, e cheia de fôlego para, pelo menos, as próximas doze edições, dá um alento no coração e uma alegria de viver.

Prova de que é possível, sim, fazer (e viver de) arte em nosso país, sem precisar apelar para modismos ou produções de qualidade duvidosa. Desde, é claro, que você veja a arte, e o trabalho que envolve sua produção, com profissionalismo e comprometimento.

O que Sergio e Lídia sabem fazer como poucos.

E é por isso que a Revista Café Espacial é leitura mais do que obrigatória para todos que produzem e/ou consomem arte em terras tupiniquins.

Então chega mais, pega sua xícara, o bule, e sirva-se à vontade de café.

Um café mais do que especial; um Café Espacial.

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É produtora cultural e escritora, autora dos livros Uma Carta por Benjamin (Ed. Multifoco, 2009) e O Túmulo do Ladrão (Ed. Multifoco, 2013). Colunista da revista Café Espacial, publicou pela Mojo Books a historieta Pela Honra de Meu Pai. Publicou em mais de quinze coletâneas, e organizou seis em parceria com outros escritores. Foi editora da versão brasileira da revista eletrônica inglesa 3:AM Magazine, e também uma das idealizadoras do projeto E-Blogue.com (in memoriam). Atualmente trabalha na Editora Os Dez Melhores e é redatora na agência Teia de Marketing Literário Virtual.

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