Conheça Ruy Guerra, o cineasta moçambicano-brasileiro que demonstra ter paixão em trazer literatura às telas dos cinemas
Ruy Alexandre Guerra Coelho Pereira, mais conhecido como Ruy Guerra, nasceu em Lourenço Marques, atual Maputo, capital e a maior cidade de Moçambique, no dia 22 de agosto de 1931. No entanto, foi radicado no Brasil desde 1958. É mais conhecido como cineasta; ao lado de Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos, é considerado um dos mais importantes realizadores do Cinema Novo brasileiro. Mas não para aí: Ruy Guerra também é escritor, poeta, dramaturgo, ator e professor, além de ter produzido alguns musicais.
Durante a adolescência, publicou críticas de cinema, contos e crônicas em jornais de sua região. Também se dedicou à atividade política, militando pela independência de seu país. Aos 19 anos, autoexilou-se e foi estudar cinema em Paris, onde permaneceu até 1958, trabalhando como assistente de câmera e assistente de direção. Aos 27 anos radicou-se no Brasil, como já mencionado, onde dirigiu seu primeiro filme, Os cafajestes (1962). Aproximou-se do Cinema Novo e, em 1964, dirigiu Os fuzis, um dos longas mais significativos do movimento.
Em 1973, escreveu, com Chico Buarque, a peça Calabar, proibida pela censura e encenada apenas seis anos depois de escrita. Devido à independência de Moçambique, retornou ao país em 1980, e lá participou da criação do Instituto Nacional de Cinema Moçambicano, além de filmar Mueda, memória e massacre, primeiro longa-metragem do país. Entre 1991 e 1994 viveu e trabalhou em Cuba. Em 1996, publicou a coletânea de crônicas 20 navios, sua estreia (solo) oficial na literatura.
Duas grandes temáticas permeiam seus escritos e, também, os seus filmes: as questões conceptuais ligadas à multitemporalidade do acontecimento histórico (como a experiência, a memória, as interpretações de eventos sociais), e o conjunto de dinâmicas relacionadas com a imposição da violência do Estado e da modernização, associado aos processos de desintegração da ordem do mundo antigo.
Uma boa parte da produção cinematográfica de Ruy Guerra é originada por meio de adaptações de textos literários, o que demonstra o apreço do cineasta pela literatura, tanto brasileira quanto estrangeira, não só na condição de escritor.
Guerra, a partir de 1972, deu início a alguns projetos em colaboração de ninguém mais e ninguém menos que Gabriel García Márquez. O cineasta adaptou livremente vários romances do escritor, como Eréndira (1983), Fábula de la Bella Palomera (1988) e O Veneno da Madrugada (2004/2005). Além disso, há Me Alquilo para Soñar (1992), mini-série filmada integralmente em Havana, a partir do relato epônimo publicado por García Márquez, em 1980, na antologia Doze Contos Peregrinos.
Além disso, o cineasta moçambicano-brasileiro também dirigiu alguns filmes que foram adaptados de grandes obras da literatura brasileira, tais como: Kuarup (1989), baseado na obra Quarup, de Antônio Callado; Estorvo (2000), baseado na obra homônima de Chico Buarque; Quase Memória (2015), seu filme mais recente, baseado na obra homônima de Carlos Heitor Cony.