O sangue é o pano de fundo para mostrar até onde cada ser humano pode chegar
A guerra entre o Céu e o Inferno ganha um novo significado quando as obras de arte de um menino cigano começam a vir à tona. Wladimir Lester, abandonado no pequeno orfanato da cidade de Três Rios quando ainda aparentava 12 anos, carrega segredos obscuros, capazes de mudar vida de homens e mulheres para sempre, despertando interesses muito além da compreensão de qualquer ser humano. Após um grave incidente, o menino desaparece, mas sua lenda sobrevive, suas obras atravessam os tempos e despertam a ganância de pessoas desesperadas e desiludidas com a própria existência.
Assim começa Ultra Carnem, obra de Cesar Bravo, escritor que tem ganhado destaque no cenário de terror nacional. Seu novo livro, lançado pela DarkSide Books, insere o leitor em uma atmosfera macabra desde a capa e consegue causar calafrios a cada uma das ilustrações que precedem os capítulos. Mais um belo trabalho concluído pela editora, de forma a realmente agradar aos leitores do gênero.
Voltando à história, anos após o sumiço de Lester, a busca inconsequente pelas obras que produziu (capazes de controlar e aprisionar almas) e, sobretudo, pela tinta que utilizava para pintar esses quadros continuou. Nôa D’Nor, um artista plástico ambicioso, Marcos Cantão, um técnico de informática fracassado, e Lucrécia Trindade, uma garçonete que fora abusada desde a infância, são alguns dos que pagam o alto e sangrento preço por obterem vantagens por meio do mal advindo das obras do menino cigano.
Ultra Carnem é permeado de misticismo, de aparições demoníacas e da presença do próprio Príncipe do Inferno, Lúcifer, que interfere na história dos homens com violência e sarcasmo. É interessante notar que a maior parte do livro ocorre sobre a perspectiva de pessoas e entidades ligadas ou favoráveis ao Diabo, seja por conta de suas ambições ou em razão do sentimento de desforra
pelos sofrimentos que tiveram em suas vidas. Assim, Cesar Bravo explora os mais vis desejos humanos e os ilustra sem meias palavras ao longo das quase 400 páginas do livro. O sangue se torna o pano de fundo para mostrar até onde cada um dos personagens pode chegar.
Cerque-se de sua fé (seja ela qual ou em quem for) e prepare-se para enfrentar essa história sinistra. Mas saiba:
“Não é segredo que o brinquedinho preferido da inteligência celestial é o homem. Um macaco razoavelmente inteligente, sem ofensas, dotado de uma alma, com capacidade de aprendizado e evolução praticamente ilimitados. Queríamos ofender a criação, entendeu? Mas os séculos e a própria evolução humana nos obrigaram a rever conceitos.” (p. 330)