‘Verão Caliente’, poemas pra quem gosta de…

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Primeira antologia da Três Macacos apresenta poemas eróticos tão quentes como o verão.

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Poema de Djalma Ramalho na antologia Verão Caliente

Poucas artes devem ter se beneficiado mais da internet do que a literatura. Não bastasse o fato de passarmos a um meio de massa que se utiliza do texto, diferente da televisão, por exemplo, a grande rede ainda propiciou a explosão de projetos literários ou novas editoras. É o caso da Três Macacos Publicações, criada por nossos colaboradores Bernardo Pacheco e Juliano Rodrigues, que em seu primeiro projeto criou a oportunidade de publicação para quem gosta de poesia.

A antologia Verão Caliente, como o título não esconde, teve por tema os poemas eróticos, aqueles que exaltam o amor e o sexo em sua forma poética. Como a contracapa explica: “não se trata de um livro pornográfico, ou demasiadamente explícito, mas sim de um livro que fala de sexo e sensualidade de forma natural, como de fato é este ato”. E ainda termina com um conselho ao leitor, que não hesite em “se despir ao ler este livro, não apenas a roupa, mas especialmente a alma”.

verao_calienteComo em toda antologia, há poemas que chamam mais ou menos atenção, aqueles em que se percebe que o poeta tem uma técnica mais refinada, ou aqueles escritos apenas por fruição, ou por inspiração. E nisso tudo entra o maior dos críticos, o gosto pessoal de cada um.

Asas azuis, de Andressa Nunes, tem uma primeira estrofe memorável:

Os olhos negros riem da escuridão
As mãos solitárias me encontram
Desenham na pele o mapa da fome
Sabedoria inerente aos insaciáveis.

Ainda que “mãos solitárias” remetam à masturbação em um livro de poemas eróticos, começar um poema com o verso “Os olhos negros riem da escuridão” é de uma sensibilidade ímpar. Não posso deixar de conjeturar que em uma relação sexual o olho que ri na escuridão é o mesmo a que se refere Georges Bataille em História do olho (cujas capas em qualquer edição sempre trazem bundas para que não se perca o sentido). Um pequeno deslize também se nota no primeiro verso da segunda estrofe: “O sorriso inspirador anuncia/”. “Sorriso inspirador” é uma imagem gasta, contudo o verso seguinte produz uma resignação poderosa no leitor “O doce negócio da solidão” (não parece o título de um livro que o Gabo poderia ter escrito?). Os dois últimos versos do poema, imagino, afirmam que a salvação para o vazio da vida contemporânea está na sexualidade: “O cheiro irresistível do prazer ressaltado/ Dissipam os vestígios podres do mundo vil.”

Outro poema que cito brevemente é Amor é café, de Cefas Carvalho, cujo começo é “Ela faz amor/ E café/ Como ninguém…”, e neste tom bem humorado segue até o fim. Se não chega a ser erótico, é simples e expressa um tipo de amor que nos parece distante na atualidade.

Melhor que falar destes poemas é lê-los, mergulhar de cabeça neste Verão Caliente.

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