12 autores que deveriam (ou não) ter ganhado o Nobel de Literatura

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12 autores que deveriam (ou não) ter ganhado o Nobel de Literatura

Será que todos que ganharam o Nobel de Literatura realmente mereceram (e será que todos que mereciam ganharam)?

Todo ano, quando se chega à época de anunciar o Nobel de Literatura, várias listas são feitas e há inclusive apostas para ver quem será o ganhador do ano – e quase todo mundo acaba, invariavelmente, errando o nome do vencedor.

Muito se discute para saber quais são os critérios reais para a escolha de cada ano, principalmente quando se nota que grandes nomes da Literatura mundial ficaram de fora e outros, nem tão grandes assim, estão dentro. Sempre pairam no ar certos preconceitos da Academia Sueca frente a determinados grupos e países – e entre eles está a América Latina, onde o Brasil, ao lado da Argentina e do Uruguai, amargam o zero absoluto apesar de elencarem alguns dos grandes autores do último século.

Deixemos de papo e vamos conhecer os doze autores que deveriam (ou não) ter ganhado o Nobel de Literatura.

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Carlos Drummond de Andrade

Pablo Neruda, Nobel em 1971, era um grande admirador de Drummond, bem como Juan Ramon Jimenez, Nobel em 1956, seguido de Czeslaw Milosz, Nobel em 1980, e que o leu em inglês. Pode até parecer reclamação pelo fato do Brasil nunca ter ganhado ao respectivo título, mas o fato é que o nosso gauche tinha todos os requisitos e talentos necessários para tanto. Comparada aos outros grandes poetas vencedores, como T. S. Elliot, Nobel em 1948, Drummond tem uma obra tão boa, senão melhor, padecendo apenas de um mal incurável: escrever nessa lusa língua esquecida pelo resto do mundo (mesmo nossos colonizadores portugueses têm um mísero prêmio com José Saramago, o que mostra o quanto pode ser difícil escrever em português). O mundo é quem perde a oportunidade de conhecer um dos maiores poetas do século passado, autor de uma obra rica e profunda, digna de ser laureada.

John Steinbeck (Nobel em 1962)

Não há como negar que Steinbeck é um bom autor. O clássico dirigido por John Ford em 1940, As vinhas da ira, baseado no romance de mesmo nome, bem como outras adaptações às telonas mostram a força do seu naturalismo literário em pleno século XX. Mas será que ele realmente merecia o Nobel de 1962? Quando questionado pelo The New York Times sobre o caso, Steinbeck foi sincero: “Francamente, não.” Cinqüenta anos depois, ao serem abertos os arquivos daquele ano, viu-se que Steinbeck não estava na lista inicial dos candidatos – que incluía Lawrence Durral e Karen Blixen.

Jorge Luís Borges

Um exemplo clássico de que política conta, e muito!, para eleger o vencedor refere-se à figura do cânone Jorge Luís Borges. Sua obra é o início do que viria a ser chamado Realismo Mágico, influenciando um sem-fim de escritores, alguns, inclusive, ganhadores do Nobel. Mas o que fez com que o argentino Borges ficasse de fora do seleto grupo de ganhadores? O pecado foi ter, quer queiramos ou não, apoiado vários dos ditadores latino-americanos nas décadas de 1960 e 1970, especialmente o chileno Augusto Pinochet. Por muitos anos ele esteve na lista dos prováveis ganhadores, como atestam seus biógrafos, e por muitos anos ele foi negado por motivações pessoais. Neste momento, me vem uma questão em mente: quem ganha o prêmio é o autor ou a sua obra?

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Carta de Jean-Paul Sartre recusando o Prêmio Nobel de Literatura

Aleksandr Solzhenitsyn (Nobel em 1970)

O caso de Solzhenitsyn pode ser visto da seguinte forma: um autor de resistência à URSS em meio à Guerra Fria, premiado mais pela sua posição política do que por suas obras (ou o conjunto delas). Não que sua obra seja de má qualidade, mas nunca antes na história do prêmio um autor com tão poucos livros publicados, num curto espaço de tempo, ganhou o prêmio – e nunca mais viria a acontecer. Solzhenitsyn já tinha publicado aquilo que seria sua marca para a posteridade, O primeiro círculo, O pavilhão dos cancerosos Um dia na vida de Ivan Denisovich. O problema é que esses três romances, comparados a outros dessa lista que ficaram de fora, são muito pouco ou quase nada. Solzhenitsyn, talvez, seja o melhor exemplo de prêmio político que se tem notícia.

Eyvind Johshon e Harry Martinson (ambos Nobel em 1974)

Se você perguntar por esses dois nomes fora do mundo escandinavo, para não dizer fora da Suécia, é pouco provável que alguém saberá lhe dizer quem eles são e o que faziam. O fato, contudo, é que ambos dividiram o Nobel de 1974. Mas os problemas ainda estão por vir. Não bastasse a falta de relevância de ambos fora da Suécia, tais escritores também eram, vejam só, membros da Academia Sueca, responsáveis pela escolha do prêmio. Não bastasse esse fato, há o agravante de que ambos ganharam de três grandes nomes na corrida pelo Nobel em 1974: o inglês Graham Greene, o americano Saul Bellow e o russo-americano Vladimir Nabokov. Bellow venceu dois anos depois, Greene e Nabokov amargaram o esquecimento.

Vladimir Nabokov

Autor de romances consagrados, Nabokov não só perdeu o prêmio como foi passado para trás por dois dos que selecionavam os candidatos. Sua obra é forte e marcante, sendo referência ainda hoje a inúmeros escritores de nacionalidades distintas. Com romances psicológicos, A defesa Luzhin, tramas pós-modernas, Fogo Pálido, romances on the road como é o caso de Lolita, temos uma amostra do conjunto composto por esse russo exilado desde a Revolução de 1917. Para quem lê suas narrativas, tendo sido escritas em russo ou inglês, é impossível não se fascinar com a facilidade com que somos envolvidos pela sua linguagem bem elaborada e saborosa.

Carlos Fuentes

Carlos Fuentes

A morte de Artemio Cruz é um dos maiores romances do boom latino-americano, e seu autor um dos centros desse momento histórico no qual já não se acreditava mais na força do romance, muitos dando o gênero como morto. Fuentes foi autor de uma obra fortemente política, bem como a maioria dos escritores da sua geração. Sua terra natal, o México, foi examinada à exaustão em seus romances e ensaios acadêmicos, mostrando a herança maldita deixada pelos colonizadores, além apontar as bizarrices surgidas nas sociedades latino-americanas decorrentes dessa colonização. Pode-se dizer, inclusive, que sua obra, muitas vezes, comparada à de Garcia Márquez, consegue superá-la em certos pontos, mesmo não tendo o frescor caribenho do último autor citado. Uma injustiça com o povo latino, o que mostra mais uma vez a visão eurocêntrica do Nobel.

Winston Churchill (Nobel em 1953)

Você pode estar achando que leu errado, mas não há nada de errado com o nome que foi lido. Em 1953 o mundo descobriu que o ganhador do prêmio era nada mais nada menos do que o primeiro-ministro inglês Winston Churchill. Segundo nota divulgada pela Academia Sueca, ele ganhou “por sua maestria na descrição histórica e biográfica, bem como pela brilhante oratória em defesa dos valores humanos”. O livro em questão que lhe rendeu o prêmio foi uma autobiografia em cinco volumes, bem como alguns trabalhos jornalísticos anteriores ao período em que fora primeiro-ministro durante a Segunda Guerra Mundial. O que fica claro, porém, é que este, bem como outros prêmios dados durante o período da Guerra Fria, tem mais ingredientes políticos do que realmente literários – ou quem sabe é uma forma de se dizer obrigado pelos feitos de Winston Churchill, durante a Segunda Guerra.

Thomas Pynchon

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Quando se fala em romances pós-modernos, muitos nomes surgem, porém todos são unânimes ao apontar o nome de Thomas Pynchon.  Autor de obras extremamente criativas, nas quais é possível encontrar conteúdos diversos como física, matemática, psicologia, química, mitologia, história, quadrinhos, música pop, drogas, pastiche, ocultismo e paranóia. O arco-íris da gravidade é apontados por muitos escritores e críticos, inclusive pelo nada amigável Harold Bloom, como uma das maiores e melhores narrativas de todos os tempos. Contudo, o fato que o levará a não ganhar ao prêmio não está na qualidade do conjunto de suas obras, muito menos em questões políticas. O problema, por mais engraçado que ele seja, é que a Academia tem medo de lhe dar o prêmio e não aparecer ninguém para recebê-lo.

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