Enviou seu conto para a revista Pulp Fiction, ou pretende enviar? Esta lista vai ajudar você!
Resolvemos fazer esta lista não como uma exibição de arrogância, mas para ajudar quem quer ser publicado na Pulp Fiction. Após a segunda edição (que saiu recentemente), o Jefferson Figueiredo e eu – editores da revista – consideramos que seria uma boa revelar aquilo que chamamos de “erros mais comuns nos contos de quem não foi publicado.”
Afinal de contas, eu também enviei meus textos para mil e um concursos. E após aquela espera agonizante, ficava meio frustrado quando saía a lista e meu conto não estava lá. Como muita gente que envia seus textos para a Pulp, também queria receber um feedback de o “porquê não ter chegado lá, não ter entrado na lista de selecionados.”
Hoje, selecionando os textos, sei que é humanamente impossível dar um retorno a centenas de pessoas que enviam seus textos. No entanto, listar e explicar quais são os erros mais comuns que o pessoal vem cometendo pode ser uma mão na roda, vai dizer que não?
Vamos a eles.
1) Formatação incorreta. Ainda não deixamos ninguém fora da revista por causa disso, mas a partir das próximas edições, seremos mais rígidos. Então fica o aviso. O que pedimos é bem simples. O e-mail deve ser enviado para [email protected] contendo no título do e-mail: conto. E em anexo, o arquivo (em doc ou docx) nomeado com o nome do conto. Neste mesmo arquivo, deve ter uma bio (nome e descrição de quem é você) com no máximo 500 caracteres no final do arquivo. O documento deve ter entre 1 e 10 laudas (consideraremos uma lauda 2100 caracteres com espaço – o mesmo que uma página A4, em fonte Times New Roman, tamanho 12, espaçamento 1.5, com 2,5cm de margem) – isso não é nem de longe tão complexo quanto formatar um trabalho acadêmico, apenas para citar um exemplo.
Diagramação correta por parte do autor é respeito para com o seu leitor. Guarde isso.
2) Conto fora da temática da revista. A Pulp tem uma proposta definida. Em síntese, publicar contos de enredo. Histórias que tenham viradas espetaculares e, mesmo assim, sejam bem escritas. Não somos uma fan-fiction de Tarantino, embora assim como ele em seu filme de 1994, homenageamos com nossa proposta as revistas Pulps americanas, que revelaram tantos grandes escritores. Portanto, dificilmente vamos publicar contos sobre divagações filosóficas, histórias com flanêurs infindáveis ou textos que em nada têm a ver com a nossa proposta. Não temos nada contra. Apenas resolvemos mostrar uma parcela da ficção contemporânea que raramente tem lugar para aparecer.
3) Falta de plot points. De novo, a questão da proposta. A Pulp Fiction publica contos de enredo. Para quem não entendeu ainda, histórias que tenham viradas. Daquelas que prometem uma coisa e no final se revelam outra.
4) Adjetivos como se não houvesse amanhã. Alguns dos contos que recebemos vêm carregados de adjetivos. Os maiores problemas disso são: 1) adjetivos que não dizem nada. Afinal de contas, “bela e deslumbrante” podem ter pontos de vista diferente para mim e para você. Escritor descreve e é preciso em suas descrições; 2) o uso do adjetivo antes do substantivo, uma influência problemática da língua inglesa (ou de quem só lê livros traduzidos). Não que o adjetivo nunca possa vir antes do substantivo nos contos, mas quando você vê isso a cada frase, passa a entender isso como um problema.
5) Longas introduções. Quando você lê um escritor clássico (tipo um Machado ou Tolstói), acaba se deparando com longas introduções para as histórias. No entanto, não estamos mais no século XIX. Procure apresentar logo sua história e fisgar o leitor. Como diz o escritor Marcelino Freire, dando um ótimo conselho na escrita de contos, “quando a história começa, a porta do inferno já tem que estar aberta faz tempo.”
6) Problemas gramaticais. Parece redundância colocar isso aqui, mas tentem ler e reler seus contos. Revisem em voz alta, imprimindo o arquivo etc. Se estiver na dúvida, peça para algum amigo para dar uma lida. Um ou outro erro de digitação é tolerável, porém textos cheios de problemas gramaticais serão descartados de cara.
7) Não publicamos Fan Fictions. Alguém disse que se você for o Tarantino ou o Neil Gaiman e copiar outro autor, é referência, se outra pessoa fizer isso, é plágio. A verdade é que esses caras manjam como ninguém de absorver referências e usar em suas criações. Todo grande artista faz isso em maior ou menor escala. No entanto, a Pulp Fiction não vai publicar histórias que se apropriem totalmente do universo de outros autores – tal qual acontece com as fan fictions. Entenda a diferença entre as duas coisas.
8) Contos de linguagem. Outra sobre a temática de revista. Temos no Brasil uma tradição impressionante de escritores de linguagem. Tanto que a maioria das publicações e prêmios em nosso país privilegiam este tipo de ficção (que pretende reinventar a forma). A Pulp Fiction, por sua vez, procura histórias bem escritas, mas que tenham enredos. É a última vez que repito isso, prometo.
9) Fale da favela apenas se conhecer a favela. Não abuse de contos policiais que se passam em periferia, nem da sua linguagem, a menos que tenha certeza de que é uma boa ideia. É legal ver que cada vez mais há contos em meios que antes eram deixados de lado. Mas nem sempre encaixa, principalmente quando, depois de umas linhas, fica claro que o autor não conhece bem o meio e usa clichês de linguagem e de nomes. Escreva sobre o que conhece, é sempre mais fácil – e evite clichês sobre homens broncos com uma arma e gírias que mais parecem filmes policiais dos anos oitenta.
10) Evite frases longas e repetição de palavras. É inadmissível que um escritor use a mesma palavra e não procure um sinônimo para ela. Recebemos contos com frases cheias de vírgulas, cheias de palavras separadas por vírgulas e que têm um ponto final depois de doze linhas. Quem lê nem lembra mais direito onde está porque o texto não tem espaços para o leitor respirar na história. Só palavras e palavras, parecendo um textão de Facebook mal-escrito.
11) Títulos comuns. Sempre que vejo um título de conto como “A porta” ou “A caixa”, não consigo me desprender da ideia que o escritor é preguiçoso. Hemingway fazia listas de cem títulos até descobrir aquele que mais se encaixava com o seu conto. Um bom título pode obrigar o leitor a ler o texto. Ou fazer com que os avaliadores da antologia se perguntem por que colocar um conto com um título tão curioso na revista? A partir de agora, vamos ser mais exigentes com isso.
12) Finais. Posso chutar que de cada dez contos que recebemos, pelo menos uns três acabam com o personagem acordando no final da história. Por favor, você pode fazer melhor do que isso. Pode arrematar seu conto com uma grande frase, talvez um diálogo inesperado, uma entrada imprevisível ou um personagem que se revela (surpreenda, caramba!), mas não com o recurso mais velho de toda a ficção.
(Nada contra escrever histórias que contenham sonhos. Você entendeu).
Bom, essas são algumas dicas. É uma lista que pode crescer, mas ela está aí para isso, ajudar. Sempre com o intuito de tornar o nível da publicação cada vez melhor e projetar mais escritores.