150 anos depois, exposição investiga o mundo obscuro de “Crime e castigo”, de Dostoiévski

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Exposição em apartamento de Dostoiévski explora o mundo sombrio e complexo de Crime e Castigo, 150 anos após a publicação da obra

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Dentro de um antigo apartamento em São Petersburgo, que já foi o lar do clássico escritor russo Dostoiévski, essa nova exposição mergulha os visitantes no mundo sombrio e complexo de Crime e Castigo, lançando uma nova luz sobre uma das maiores obras literária da Rússia, isso 150 anos após a sua publicação.

Localizada no coração da ex-capital imperial da Rússia, a exposição explora as profundezas de um romance que ganhou aclamação da crítica quando publicado pela primeira vez em 1866 e se  tornou uma das obras mais conhecidas de Dostoiévski.

Ao entrar no museu, o qual realiza a tal exposição, o visitante é literalmente imerso no romance, cujo texto integral é rebocado sobre as paredes, disputando espaço com uma série de pinturas, desenhos, documentos e antiguidades do século XIX de São Petersburgo, onde a história do romance se passa.

Publicado pela primeira vez em forma de série em uma revista literária, Crime e Castigo conta a história de Rodion Raskólnikov, um jovem pobre que acredita ser moralmente superior a todos os outros e tenta testar os limites da sua liberdade ao assassinar uma idosa agiota.

Ele, então, é atormentado por suas ações. Resumidamente, o romance explora temas como a legitimidade da violência, os limites da liberdade e o preço da vida humana – marcas de excelência das obras de Dostoievski e da literatura russa como um todo.

Traduzido para vários idiomas e adaptado para a televisão e o cinema em uma série de países, Crime e Castigo é uma obra-prima literária classificada ao lado de outros clássicos da literatura russa, como Guerra e Paz (1869), do escritor Tolstói, ou obras de Pushkin e Gogol. Além disso, os personagens e as descrições de seus caracteres e personalidades, bem como outras obras maiores de Dostoiévski, inspiraram pensamentos filosóficos, sociológicos e psicológicos da segunda metade do século XIX e também no século XX. Influenciaram filósofos e pensadores como Nietzsche, Sartre, Marcel Proust, Clarice Lispector, Kafka, Albert Camus, Freud, James Joyce, Virginia Woolf, dentre outros.

A obra de Dostoiévski exerce uma grande influência no romance moderno, legando a ele um estilo caótico, desordenado e que apresenta uma realidade alucinada. O modernismo literário e várias escolas da teologia e psicologia foram influenciadas por suas ideias.

“Você realmente tem a impressão de que está submerso no romance”, disse Roman Kovchenko, de 33 anos de idade, quando visitou a exposição com sua mãe.

“Este romance de Dostoiévski é o meu favorito, ele é o mais ‘Saint-Petersburg’”, entusiasma-se outro visitante, de 45 anos de idade, a Galina Somova que diz que tem ainda um fascínio especial pelos moradores da cidade.

“Para aqueles que amam o romance, que o leram muitas vezes, descobrir novos detalhes ou nuances e comparar a sua imaginação com a dos organizadores é muito interessante”, disse à AFP.

 

EXPOSIÇÃO ‘TRIDIMENSIONAL’

Segundo os organizadores, a exposição apresenta “três dimensões” do trabalho complexo de Dostoiévski: a primeira representa o pré-revolucionário de São Petersburgo, a rica arquitetura de suas casas e pátios, suas sinuosas tabernas, que são ilustradas por pinturas ou fotos da época.

A segunda dimensão lança luz sobre a época em que o romance se passa através de objetos ligados à trama. Além de pinturas e fotos de arquivo da antiga capital da Rússia, a exposição mostra objetos de uso quotidiano e documentos que lançam luz sobre a vida diária no século 19 de São Petersburgo.

Um item incomum na exposição é um “bilhete amarelo” – um cartão de identificação informal dado a prostitutas numa alusão à profissão de Sonya, uma das heroínas que se apaixonou por Raskolnikov e que luta intensamente no vasto império russo para estar com ele.

Os visitantes também podem ver uma reconstrução do quarto onde a agiota é morta, cheio de ornamentos de ouro e outros objetos mencionados no romance. Entre eles, um relógio de prata.

A terceira dimensão é a da filosofia e da religião, com imagens que refletem tudo, desde os temas bíblicos da ressurreição de Lázaro – elementos que foram fundamentais para os escritos de Dostoiévski, um cristão devoto.

“Dostoiévski queria ‘representar todas as inquietações’ em seu romance e isso é exatamente a ideia de nossa exposição, que reflete vários aspectos deste trabalho”, explicou Natalya Ashimbayeva, diretor de Saint Petersburg’s Dostoyevsky Museum – Museu de Dostoiévski em São Petersburgo, cidade que está hospedando a exposição.

“Este romance é uma fonte ilimitada de conhecimento sobre as ideias de Dostoievski”, disse ela – AFP

 

Tradução: Marcelo Vinicius – [email protected] / www.facebook.com/celovinnicius

Fonte: Malay Mail Online

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Marcelo Vinicius é escritor e fotógrafo, autor do livro "Minha Querida Aline" (Editora Multifoco). Colunista do portal Homo Literatus e editor da Revista Sísifo. É amante da arte, especialmente a fotografia, o cinema e a literatura. Graduando em Psicologia pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na qual faz parte da equipe editorial da revista de Filosofia IDEAÇÃO-UEFS, do Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Filosofia (NEF); é integrante do grupo de estudos em Filosofia da Arte e do grupo de pesquisas em Filosofia Contemporânea na UEFS. É certificado pelo curso de fotografia do Cento Universitário de Cultura e Arte (CUCA) e teve suas fotografias selecionadas por diversos festivais. Participou de jornais regionais, do projeto de extensão sobre cinema e produção de subjetividade e do projeto de Psicologia Social na UEFS. Foi responsável também por coordenar projetos acadêmicos sobre os escritores Franz Kafka e Fiódor Dostoiévski, ainda co-coordenou projetos sobre os cineastas Bergman e Hitchcock e apresentou o tema “A relação entre o escritor Dostoiévski e o cineasta Hitchcock em Festim Diabólico”, na II Mostra 100 Anos de Cinema: Alfred Hitchcock.

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