Até poucos anos atrás era humanamente impossível se destacar no meio literário se não houvesse algum apadrinhamento, ou veia familiar, ou qualquer ajuda que fosse para que os escritos de alguém pudessem tomar formato de livro impresso. Mas o desenvolvimento tecnológico de comunicação, assim como a viabilidade de impressão tornou o sonho de ter um livro impresso bem mais fácil. Não tão mais fácil que ter um filho ou plantar uma arvore, mas sim, mais viável!
Muitos olham e pensam que a literatura no Brasil é parecida com a que vemos no resto do mundo, principalmente nos livros editados primeiramente em inglês, que o livro brasileiro será best-seller, que será um arrasa quarteirões e haverá rios de dinheiro fluindo para o bolso do famigerado autor de tal obra. Partindo deste pensamento, portanto, uma pessoa se inspira pela paixão e sonho de ter seus escritos vistos por milhares, talvez milhões de pessoas… de ser reconhecida, talvez até ter fama. Ou meramente realizar um sonho, ou apenas deixar sua marca no mundo. Pode também ter o objetivo se subsídio de vida, ser um meio de ganhar o pão de cada dia, sua profissão. Seja lá qual for tal a razão, essa pessoa se inspira, coleta suas lembranças mais profundas, mistura com sua criatividade, acrescenta tudo isso num caldeirão mental com pitadas de engenhosidade e por fim, depois de tempos, consegue dar a luz a um livro jovem e promissor. Então vem o passo seguinte, publicar seu livro por uma editora.
O autor brasileiro sofre discriminação pelo próprio brasileiro, às vezes por que se julga o material nacional sem potencial, ruim. Outras vezes porque o material do exterior é sempre mais trabalhado, horas por modismo e febres momentâneas da mídia sobre alguma obra ou gênero específico. Seja lá qual o motivo, o escritor terá que superar.
Profissionalismo é algo que carece o jovem aspirante a autor. Procurar ser melhor naquilo que propõe fazer é algo fundamental em qualquer profissão.
Vale citar que os gastos de uma grande editora dos custos com o projeto editorial completo à campanha de marketing e tudo mais, não ficam por menos de 30 ou 40 mil reais sobre cada obra trabalhada.
Mas, então? A ideia veio, foi escrita. Agora é só publicar. Bom algumas dicas podem facilitar este caminho para você:
1. O aspirante a autor não se prepara!
Muitos acham que apenas por saber um bom português e gostar de ler, e entender alguns mecanismos de tramas e enredos (assistindo filmes, ou até mesmo lendo), e ele já se qualifica um autor. Saibam eles, que fora do Brasil existem muitas Universidades que oferecem o curso superior de Escritor! Isso mesmo, curso superior para se formar na profissão de escritor. Sobre isso, a escritora Francine Prose não nos deixa mentir em seu livro: Para Ler Como Um Escritor.
Dicas, ensinamentos e tudo mais que for agregador de valores ao que engloba escrever e ter suas ideias traduzidas em letras, frases, livros em fim! Absorva e pratique! Entre outros atributos, também há de se saber um pouco de psicologia, sociologia, RPG, antropologia e até filosofia (fora a parte da pesquisa especifica que vai se alterar de história para história). No livro há muitas personagens, mas autor há apenas um. O escritor deve ser todos os personagens ao mesmo tempo, saber o que todos sabem, falar como todos falam, pensar como todos pensam, seja o personagem homem, mulher, alienígena, animal, criatura, mito, lenda, espírito… E, além de tudo conseguir fazer de cada um deles um ser impar, diferente. Cada um terá suas manias, seus medos, seus jeitos e trejeitos, suas características físicas e psíquicas, sua forma de falar, sua personalidade, seus distúrbios, entre muitos e muitos outros fatores.
“Construir um personagem da forma certa ou errada pode ser decisivo para o sucesso, ou não, de uma peça teatral”, já dizia Boal. E por que não pensar dessa forma numa montagem literária?
2. As editoras não separam o joio do trigo
A capitalização e necessidade voraz de viver, sobreviver e ainda crescer num mercado devorador de pequenos concorrentes é uma missão quase suicida, mas há empresários para tudo.
Como foco de desejos e principalmente, lucratividade para o sustento e manutenção da instituição, e seu próprio, o proprietário de uma editora no Brasil se força a agir com a razão por mais vezes que com seu coração literário. A arte da literatura deve ser apreciada, no entanto também deve gerar lucros!
É nesta corrida, em meio a trancos e barrancos, que a indústria literária brasileira começa a pecar. Em vários momentos há chances de lucratividade para a editora, mas acaba passando em branco. Um pouco por estarem fartas de receber tanto material medíocre, e por também terem tantas opções vindas do exterior que têm venda certa, que preferem gastar quinze mil reais apenas com a tradução de uma obra, a ter que investir isso num autor nacional, mesmo que este autor seja de qualidade, infelizmente também desconhecido, e iniciante.
3. As editoras não “arriscam”, mesmo que o material e o potencial sejam altos
Quando há a identificação de um excelente material, a editora ainda fica com o pé atrás, no que se refere em arriscar, ou não, em investir no desconhecido detentor de um primeiro livro, mas um ótimo primeiro livro – ele não tem público, ou fãs. Não tem know-how, não tem disponibilidade para promover seu livro – indo a programas de rádio, viajando pelo país, eventualmente viajando para participar de programas de TV, eventos diversos, feiras literárias, etc. –, pois no final das contas, no Brasil é quase impossível se dedicar inteiramente à profissão de escritor literário profissional, sempre há uma atividade principal do autor, depois que vem a literatura.
4. O leitor brasileiro é resistente, preconceituoso e adora modinhas
E ainda temos que lidar com um público pequeno e ainda em desenvolvimento. A cultura da leitura brasileira vem crescendo, mas a passos muito, muito, muito lentos. Aos que começam a habituar-se na leitura, às vezes dão preferência para o que o mercado oferece, ou seja, vão atrás das modinhas literárias enlatadas e estrangeiras. Eles vêm os reviews e sabem que há muita gente falando bem, então procuram, compram, pedem pelo livro. Ou se influenciam por sucessos anteriores, e compram.
Enfim… De uma forma ou de outra, nomeando algumas, faltando muitas, sendo justos ou injustos os apontamentos das fraquezas e pontos fortes, uma coisa é certa: a conduta devida e renovação de conceitos deveria começar de vários pontos diferentes e ao mesmo tempo, tanto por parte do profissional editor quanto do proposto profissional escritor.
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Portanto, aos novos autores e iniciantes, ou até experientes, a sorte terá que fazer parte de sua carreira! A tecnologia ajuda, mas quem faz a maior parte, seja apenas escrevendo ou fazendo tudo que há de se fazer, é o próprio autor!
Escrever pode parecer a parte mais difícil, mas depois de passar por estudos, aprendizado, criação, pesquisa, mais aprendizado, desenvolvimento, escrita, revisão, reinvenção, adaptação, análise de verossimilhança, mais revisões, e finalmente ter o livro escrito, o original pronto… aí sim vem a parte difícil: publicar.
Esse mero ato – publicar – é complexo, mas não impossível!