Quatro pessoas, interessadas em áreas como design, música, publicidade, gastronomia e empreendedorismo, leram o conto “Casa Tomada”, de Cortázar, e falaram sobre suas impressões
“Casa Tomada”, de Julio Cortázar, é, disparadamente, o meu conto preferido. Crio uma teoria diferente sobre esse texto toda vez que falo sobre ele. Resolvi propor, então, um desafio a 4 amigos meus. Selecionei a dedo. Todos eles têm algo em comum: nenhum é chegado em literatura. Os campos de conhecimento por qual se interessam são outros: design, música, publicidade, gastronomia, empreendedorismo. Não encostaram em nada literário esse ano, me assegurei disso.
O desafio foi: ler o conto Casa Tomada e responder a pergunta: o que você achou do conto? Simples. Abaixo, deixo os depoimentos deles acompanhados dos temas dos livros que leram esse ano. Dá uma olhada:
1. Douglas, leu três livros este ano, ambos sobre design.
Cara,
Lendo o texto eu me senti dentro da casa, dentro da vida dos personagens, participando da vida deles até me senti um pouco vazio pela vida que eles levam, parecem estar esperando a hora da morte chegar ou acontecer algo, se apegando a coisas pequenas como uma coleção de selos ou tricotando (vida chata do caralho) para ter algo para fazer. Mas o que me deixou nervoso mesmo foi entender que porra é essa que ta acontecendo, quem ta tomando a casa? Uma coisa que me veio na cabeça, será que após tomarem a casa a vida deles não pode dar uma mudada? Eles começarem a conhecer o mundo dar uma volta nessa vida monótona que eles levavam. Esse foi o sentimento que eu tive lendo o texto, sei lá se é certo ou errado mas ta ai, foda-se
2. Guilherme, leu um livro este ano (para aprimorar seu inglês)
Confesso que minha experiência em leitura de contos é zero. E provavelmente é por isso que sou a cobaia perfeita nesse caso. Ao ler o conto de Julio Cortázar pude perceber alguns sentimentos que me despertou. Senti-me confuso em determinados momentos e me pergunto sobre a veracidade dos acontecimentos narrados na história, se ele estava louco, se apenas simulou as situações de invasão em sua casa ou se toda a história é baseada em uma grande mensagem de reflexão para algo maior. De qualquer maneira isso não me importa. Agradou-me a maneira como a história prendeu minha atenção com seus ricos detalhes e despertou também certa ansiedade para o momento de seu desfecho. Percebi solidão, tranquilidade – antes da invasão -, afeto mútuo entre os personagens e a casa como justificativa para tudo isso. Uma maneira no mínimo interessante de descrever essa rotina diária, por parte de Cortázar. Mas afinal, quem tomou a casa?
3. Thomaz, leu dois livros este ano. Ambos sobre empreendedorismo.
Não costumo ler livros de literatura, nos últimos anos, leio apenas livros técnicos. Assim, o conto pra mim foi meio ‘longo’, muitos detalhes irrelevantes para a estória e isso tornou ele meio chato pra mim. Parei durante a leitura para fazer outras coisas que me pareceram mais interessantes, conferir o e-mail que chegou ou pegar um copo d’água, por exemplo. Não é o tipo de leitura que eu gosto, mas sou curioso e reflexivo, então estou até agora tentando entender a moral e/ou sentido do conto. Como se um canto do meu cérebro estivesse tomado.
4. Antoni, leu um livro este ano. Sobre vendas.
Lendo esse conto fui remetido a um sentimento de comodismo, solidão, talvez, um sentimento de desgosto pela vida, uma vez em que os irmãos ocupam suas vidas fazendo todos os dias as mesmas e monótonas tarefas pontualmente na fria e silenciosa casa. Porém, ao mesmo tempo em que o conto proporciona alguns sentimentos ensimesmados, nos proporciona algumas boas lembranças como a nossa infância, como a falta de responsabilidades e até mesmo sobre a falta de preocupação com o amanhã. Ao decorrer do conto, criei curiosidade pensando que o autor descreveria como era a vida deles até o fim, como eles faleceriam ou algo nesse sentido. De certa forma, o texto prendeu minha atenção, como outros desse gênero não o fazem. Acredito que seja importante destacar o sentimento de raiva misturado e inconformidade em não entender quem “tomou” a casa deles.
E você? Já se perguntou o que os seus amigos falariam do conto que você mais gosta?