É uma lista incompleta, sujeita aos meus lapsos de memórias. Há muito mais psicopatas habitando a paisagem da ficção merecendo posições de honra no coração dos leitores.
É complicado entrar em uma conversa literária (ou cinematográfica, ou insira aqui sua mídia) e dizer: “Ah, eu gosto daquele personagem.” “Qual personagem?” “Você sabe. O psicopata.” As pessoas retrocedem alguns passos. Acham que você é esquisita. Por que gostar do psicopata? Por que não gostar do herói? É um antigo debate da ficção: é possível gostar de personagens nada agradáveis e nem amigáveis? Seria possível preferi-los aos heróis perfeitos, que sempre aparecem para combater o mal? É tentador querer usar as respostas para as perguntas anteriores como algum teste de personalidade, sua predileção pelo psicopata a revelar a sua podridão por dentro. Mas não tenho medo de gostar mais dos personagens complicados; daqueles que não dariam necessariamente bons amigos; daqueles que, às vezes, causam mal, e às vezes de propósito. Ler é algo que, a princípio, precisa te fisgar; e os anti-heróis, quando bem feitos, costumam me fisgar muito mais do que os caras do bem, o cidadão exemplar, o sujeito que só queria ficar em casa, bebendo chá e comendo donuts, mas que foi atirado na aventura. Psicopatas são um exemplo ainda mais forte: quando são construídos por mentes habilidosas, eles chegam a roubar o show de qualquer outro personagem, até mesmo de quem deveria ser o protagonista. Quero comemorar essas mentes perturbadas com uma lista. Aqui estão alguns queridos psicopatas:
Amy Dunne, de Gone Girl (Gillian Flynn)
Estou um pouco apaixonada pela Amy. Coloco-a aqui, no primeiro lugar, mas na verdade esta lista não tem posições que representem alguma coisa além daquilo que primeiro veio à minha cabeça enquanto escrevia. Amo Amy Dunne porque seu lado psicopata é tão mais divertido do que seu lado doce e falsa cool girl. Amo Amy porque é difícil não amá-la quando sua contraparte na história é Nick, um homem que, se eu encontrasse pelas ruas, chutaria no meio das pernas. Mencionei a falsa cool girl: o discurso de Amy sobre a cool girl é uma das partes altas da leitura. Faz você se apaixonar por ela, apesar de todas as coisas malévolas que ela já cometeu e ainda vai cometer. Amy Dunne, ame-a ou ame-a (porque é difícil tentar deixá-la, como ela mesma faz questão de mostrar).
O exército de pessoas desequilibradas de Stephen King
Abra qualquer livro do Stephen King. Lá pela página 5 você encontra um psicopata. Às vezes são pessoas; às vezes são monstros de verdade, mas é um fato que os vilões do Stephen King costumam roubar a cena e perdurar mais em nossas mentes ao invés de seus heróis. Menção honrosa: Stephen King também nos deu um automóvel psicopata (Christine).
Téo, de Dias Perfeitos (Raphael Montes)
Nada como o amor para fazer de você um psicopata. Nada como amor para te motivar a cortar em pedaços o corpo de um possível rival. Téo está apaixonado, e estar apaixonado faz dele perigoso, embora ele raramente perca sua placidez, e nem deixe de racionalizar se o que está fazendo é o certo para a garota amada por ele. E a calma e frieza com que realiza as coisas talvez seja o que o torna mais perigoso, e também fascinante.
Hannibal Lecter, da série de Thomas Harris
É claro que você conhece Hannibal. Do cinema ou dos livros (embora as duas versões tenham suas diferenças). Hannibal Lecter é possivelmente o psicopata mais elegante de nossa lista. Bons livros e boa comida (vou deixar vocês pensando nisso), e viagens e uma mente genial, quase incapaz de achar um páreo. Hannibal é o homem com o qual você gostaria de se sentar em um café e talvez conversar sobre literatura, mas não um homem com o qual você aceitaria jantar.
Celeste Price, de Tampa, (Alissa Nutting)
O nome mais controverso da lista. Uma versão muito mais lunática de Humbert Humbert. Celeste Price, uma sedutora serial de menores de idade, que não se importa com quem ou o que coloca em risco em busca de realizar suas fantasias. E que, se subitamente desesperada, não hesitaria em usar uma faca contra um garoto de 13 anos. É fácil gostar de Celeste Price? É fácil gostar de qualquer maníaco sexual, especialmente pedófilos? Fácil não é, e Alissa Nutting recebeu inúmeras críticas por isso, mas não deixa de ser uma jornada memorável estar na mente de Celeste, uma das poucas predadoras sexuais femininas a ganharem as páginas literárias.
Joffrey Baratheon, de A Guerra dos Tronos e continuações (George R. R. Martin)
O ex-rei Joffrey deve ser o psicopata mais detestado da atualidade. Detestado no sentido de amarmos odiá-lo, de lermos os livros na esperança de chegar na próxima parte em que Joffrey aparecerá só para ver o que mais ele pode fazer, quanto mais ele pode descer e revelar-se mais nojento e perigoso. Vida longa ao ex-rei: no inferninho mais quente que conseguir encontrar.
Quais são os seus?