Se você ainda não conhece a obra do autor chileno Roberto Bolaño, eis 7 razões para começar agora mesmo
O obituário do The New York Times de Roberto Bolaño chamou-o “um herói cult interrompido”, e não é para menos. Ao falecer aos 50 anos de idade em Barcelona, o autor chileno deixou o grande romance (em tamanho e qualidade) 2666 praticamente terminado – além de sensação de que o melhor, se é possível, ainda estava por vir. Sua história de vida, dedicada inteiramente à Literatura, ajuda a difundir sua obra, aumentando o número de leitores.
Mas o que torna sua obra tão atraente?
Para explicar, separamos 7 motivos para ler seus romances, novelas e contos.
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Os títulos estranhos e atraentes
Se há algo que chama a atenção na sua obra, são os títulos. Dos mais enigmáticos, 2666, aos mais simples, Pista de Gelo ou Amuleto, Bolaño sabia como poucos dar nome aos seus trabalhos. Muitos são uma combinação improvável de nomes e adjetivos, tais como Os detetives selvagens ou Putas assassinas. Outros dão a entender que a obra tratará de grandes fatos históricos (mesmo que não tratem), como O terceiro reich. Há ainda os que dizem muito e explicam nada, La literatura nazi en América, As agruras de um verdadeiro tira e Noturno do Chile.
Narrativas improváveis e instigantes
Absolutamente nada parece escapar: O relacionamento entre atores pornô, a busca por um escritor que ninguém nunca viu, o assassinato numa pista de gelo, a busca por uma poetisa mexicana no deserto de Sonora, jovens vagando pelo mundo, um manual sobre supostos autores nazistas na América Latina, um escritor que vive de ganhar concursos literários com a mesma obra – que ele muda o título ao reenviá-la, as férias de um jogador profissional de wargames. Lendo essa lista, parece improvável que ele consiga tirar algo de interessante de todos esses pontos, o que se prova falso ao começar a ler suas obras. Suas narrativas, por mais simples e bizarros que sejam os motes, conseguem nos captar facilmente. Roberto Bolaño provou que uma história está em qualquer coisa, até nos lugares mais improváveis e malucos.
Autoficção feita de uma nova forma
Tem autores que fazem autoficção do jeito comum. Tem os que romantizam sua história. Tem Roberto Bolaño e Os detetives selvagens. Misturando sua própria experiência de vida ao vagar entre o México e a Europa, Bolaño criou um dos romances mais improváveis e instigantes dos últimos cinquenta anos. Mesmo focando nas suas viagens e vivências, o autor chileno conseguiu criar uma narrativa divertida e ao mesmo tempo representativa de uma geração que esperava fazer muito e conseguiu muito pouco, quase nada.
É uma forma de conhecer o México
Apesar de chileno, Bolaño viveu boa parte da vida no México, o que o levou a escrever muito sobre o país. Quase todas suas narrativas têm um trecho ou referência a ele. Em Os detetives selvagens, conhecemos a Cidade do México e o deserto de Sonora. Em 2666, vemos Ciudad Juarez, a fictícia Santa Teresa, na fronteira mexicana com os EUA e assim por diante. Os bares, os poetas fracassados, os aficionados por literatura, gente fugindo de golpes militares, nada escapou dele em suas narrativas mexicanas. Além do espaço, podemos ter contato com uma realidade não tão distante da nossa pela visão de um mexicano de coração.
Literatura feita para quem ama literatura
Grande fã de Borges, Roberto Bolaño fez literatura para todos os leitores, mas assim como o ídolo argentino, deu atenção especial para aquele leitor que gosta de ver a literatura comendo literatura. Suas narrativas estão repletas de metaficção, citações, diretas ou indiretas, de outras obras, homenagens, pastiches, paródias. 2666 é considerado por muitos leitores, críticos e autores, como a grande obra do século XXI a dar vazão a esse amor e obsessão chamada Literatura.
Todos os gêneros numa só obra
É raro encontrar um autor que trabalhou com quase todos os gêneros da ficção existentes. Da fantasia, Monsieur Pain, ao suspense, Pista de gelo e 2666, passando pela narrativa detetivesca em quase todas as obras, pelo experimental, Literatura nazi en América e o romance histórico em Noturno do Chile. O que mais impressiona, porém, não é a quantidade de gêneros com que Roberto Bolaño trabalhou, e sim a qualidade que atingiu. Em todos, podemos nos divertir numa leitura prazerosa sem perceber que o autor chileno estava apenas brincando com a narrativa e com o gênero.
Porque seus livros são muito bons
No fim, o que importa é que suas obras são muito boas. 2666 e Os detetives selvagens, suas obras mais longas, cativam o leitor logo no começo e o levam por suas oitocentas páginas sem nenhum esforço. Não há como se deparar com as narrativas de Roberto Bolaño e não passar pelo misto de estranhamento e prazer que só os grandes autores podem proporcionar. Acima de tudo, Bolaño merece ser lido porque é bom, divertido – e é isso que importa.