Moradia do caos, mas pode chamar de casa
A chuva fina não parava, o cinza deixava a cidade com clima melancólico, dois seguranças próximos ao portão recepcionavam os visitantes. A residência é a casa onde morou o poeta, cronista e um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna de 1922, Guilherme de Almeida, carinhosamente nomeada por ele na década de 40 como: “Casa da Colina”.
Corredores, escadarias, escrivaninhas, móveis de madeira cheios de adornos e esculturas que conferem todo um tom intimista ao ambiente. Logo na sala, um quadro assinado por Lasar Segall, retrata nele um Guilherme pensativo e solitário em suas reflexões.
Na parede do outro lado, se vê uma elegante Belkiss Barrozo de Almeida, a esposa do poeta, mais conhecida como “Baby”, em outra tela, dessa vez, com autoria de Anita Malfatti.
A vida intelectual e artística era rica, os amigos pintores os presenteavam com seus quadros, que estão expostos até o presente na casa que virou centro cultural aberto ao público hoje em dia.
A casa é marcada pelo estilo e detalhes de Guilherme, consegue-se imaginá-lo a caminhar por seus cômodos e passagens estreitas. Uma lareira na sala denuncia as noites frias que a faziam acender.
À época da compra da casa, Guilherme e Baby recebiam críticas dos amigos por acharem que ali era um lugar demasiado longe e inóspito, “o fim do mundo”, por conta do mato e das ruas de terra que percorriam os espaços externos de um bairro ainda em formação.
A biblioteca, no andar de cima, reserva as obras livrescas que influenciavam o Guilherme escritor, Dostoiévski, Josué Montello, Guimarães Rosa e o francês Paul Verlaine. Livros que não podem ser tocados sem a luva e permissão de um monitor cultural que orienta a visita ao local.
Mais um andar acima, uma mansarda que servia de abrigo ao poeta que se refugiava nela para escrever sua obra profícua entre crônicas e poesias. Das duas máquinas de escrever, preferia a Remington Road portátil que fica em cima da mesa central, seu local de trabalho.
Uma vitrine com um fragmento de jornal perto dali mostra uma entrevista do escritor, que em plena década de 40 reclamava do trânsito “caótico” de uma São Paulo que se transformava constantemente.
Sinal dos tempos, pois Guilherme de Almeida não viveria para ver o que ainda estava por vir e descobrir que o “caos” de outrora era seu paraíso.