A comédia romântica e o poder da catarse

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A comédia romântica e o poder da catarse
cena do filme 10 Coisas que eu odeio em você” (1999)

Quem gosta muito do gênero comédia romântica sabe que, mais cedo ou mais tarde, os padrões passam a ser muito familiares, quase como se fossem a mesma fórmula. E são mesmo! 

Os anos 90 e 2000 nos presentearam com diversas produções cinematográficas do gênero conhecido como comédia romântica. São filmes que ainda nos fazem rir e amar, pois muitos estão disponíveis para o público apaixonado nas principais plataformas de streaming. Isso significa que você ainda pode rever cenas inesquecíveis que deixam um cheirinho de nostalgia no ar, como a de Rupert Everett cantando “I Say a Little Prayer” para Julia Roberts na mesa do jantar, no filme “O Casamento do meu melhor amigo” (1997). 

E se essa não for capaz de lhe causar saudades de um tempo em que Hollywood amava os apaixonados, então com certeza a cena de Heath Ledger cantando “I Love You Baby” para Julia Stiles, em “10 Coisas que eu odeio em você” (1999), com certeza irá derreter seu coração. 

Meet-lose-get

É comum que a comédia romântica siga o padrão de encontro, perda e sucesso: meet-lose-get. Muitas vezes, os personagens principais apresentam personalidades opostas, criando uma dinâmica interessante e uma oportunidade para crescimento mútuo. 

Através do arco narrativo, o casal passa por uma transformação emocional, aprendendo lições importantes sobre o amor e a vida. E essa jornada não é apenas divertida de assistir, mas também nos permite experimentar uma catarse emocional, refletindo nossas próprias frustrações e esperanças. 

É através dessas complexidades que os espectadores se identificam e se conectam emocionalmente com os personagens, tornando a experiência do filme ainda mais poderosa.

Sempre o mesmo

Quem gosta muito do gênero sabe que, mais cedo ou mais tarde, os padrões passam a ser muito familiares, quase como se fossem a mesma fórmula. E são mesmo! 

1) Rapaz conhece garota, eles se apaixonam, alguma coisa impede que fiquem juntos, mas, no final, ficam juntos. Como em O amor não tira férias (2006) e O Casamento dos Meus Sonhos (2001).

2) Rapaz e garota se conhecem, eles se odeiam, mas do ódio mútuo, nasce aos poucos um amor. O próprio filme citado acima e estrelado por Ledger exemplifica isso, assim como também ”Alguém tem que ceder” (2003).

3) Rapaz conhece garota são amigos de infância, mas um deles queria que fosse mais do que amizade, mas apenas no final eles descobrem que foram feitos um para o outro. Assim como a narrativa cômica e apaixonante de Simplesmente acontece (2014), O melhor amigo da Noiva (2008) e De repente 30 (2004).

4) Rapaz e garota fingem que se amam, passam a conviver e a se conhecerem melhor até descobrirem que estão apaixonados de verdade. Os mestres nessa trajetória foram Esposa de Mentirinha (2011);  A Proposta ( 2009) e Como Perder um Homem em 10 Dias (2003).

Esses quatro exemplos de enredos são simples, repetitivos e cheios de clichês, mas sempre funcionaram na comédia romântica e tiveram êxito quando o objetivo era conquistar a audiência. Mas, apesar de todo o sucesso, isso não significa que as comédias românticas também não precisaram lidar com sua fase de declínio. 

O clichê, oras. Mas não só isso.

Nesta fase, o público pode ter se cansado dos temas e estilos repetitivos da comédia romântica, e os estúdios podem ter se tornar relutantes em financiar novos projetos que repetiam fórmulas ao invés de apostar na inovação.

Foi assim que os super-heróis invadiram as telas dos cinemas. A nossa antiga e tão amada Rom Com caiu em desuso e precisou encarar um período de dormência.

Mas, recentemente, para a felicidade dos eternos apaixonados, uma joia rara foi lançada aos cinemas com o título Todos Menos Você (2023), estrelando Sydney Sweeney como Bea e Glen Powell como Ben. Mas o que a torna uma comédia romântica tão cativante? 

O clichê, oras. Mas não só isso.

O filme revive brilhantemente os preceitos do gênero. Sem fazer cerimônia alguma, somos apresentados ao casal que logo de início tem uma química inegável, e por isso a audiência não tem outra opção a não ser torcer para que eles fiquem juntos.

Depois de um primeiro encontro maravilhoso, mas que terminou errado, eles poderiam simplesmente cada um seguir sua própria vida, certo? Errado! 

Não há romance sem um impedimento e nem comédia sem uma boa dose de exagero e inconveniência. Por causa de uma falha de comunicação, os dois se desentendem e, para piorar, ainda criam um ódio mútuo. Mas eles não contavam com a possibilidade da vida trazê-los juntos para um casamento de família. 

A irmã de Bea se casará com a melhor amiga de Ben, na Austrália. E agora ambos precisam lidar com todo o rancor que guardam e não estragar a cerimônia. Como se isso já não fosse confusão o suficiente, o ex noivo de Bea aparece na viagem para reconquistá-la, enquanto a ex namorada de Ben também é uma das convidadas. 

Então, para escaparem das situações incômodas com a família, os protagonistas têm a brilhante ideia de fingirem um relacionamento, desencadeando uma série de eventos hilariantes que os aproximam de uma maneira inesperada.

Se tudo isso já não for motivo o suficiente para convencê-los a assistir essa nova comédia romântica que ressuscita a essência de suas predecessoras, saiba que Todos menos você também gabaritou o gênero ao trazer uma música contagiante, “Unwritten” de Natasha Bedingfield, como hino da história. 

Considerações finais

A comédia romântica pode até seguir fórmulas bem familiares, mas não há como negar sua capacidade atemporal de nos fazer rir, chorar e nos apaixonar várias e várias vezes. 

Depois de lidarmos com a labuta do dia a dia, são elas que nos trazem aquela sensação de relaxamento, afinal, o desfecho da história todos já sabemos: os protagonistas ficam juntos. 

Então, da próxima vez que você estiver procurando por uma boa risada e um pouco de romance, não subestime o poder de uma boa comédia romântica (ou de um bom efeito de catarse).

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Formada em Relações Internacionais pela Unifesp e pós-graduada em Cinema pela Belas Artes de São Paulo. Apaixonada por livros, cinema, viagens, história e culturas estrangeiras. Amante do Egito Antigo, fã de fofocas da antiga monarquia europeia e curiosa por teorias da conspiração e alienígenas.

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