A ironia e sagacidade de Sérgio Porto (pseudônimo: Stanislaw Ponte Preta) influenciou toda uma geração de cronistas brasileiros
A crônica é um estilo de difícil denominação, o que é ou não considerado crônica pode levar horas e mais horas para se chegar a uma conclusão, se é que se chegará a tal definição; afinal, a crônica pode nascer de qualquer coisa, uma poça d’água na calçada ou de uma crise financeira no coração de Wall Street. Tudo pode gerar uma crônica, não há limites e nem regras para ela.
A crônica brasileira cresceu e desenvolveu personalidade própria, desde João do Rio e Machado de Assis, autores que ajudaram a dar cor à imprensa com textos cheios de ironia e senso de humor, até aqueles que se embrenhavam em uma narrativa mais pesada ou politizada. Muitos são os nomes que ajudaram a construir o monumento da crônica brasileira, entretanto, o espaço só me concede falar de um.
Um desses artífices da crônica nacional se chamou Sérgio Porto. É bem verdade que a maioria de seus leitores se recordam mais dele pelo pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta.
As crônicas de Stanislaw Ponte Preta, nome que encarnava para escrever o famoso e mordaz Festival de Besteiras que Assolam o País (FEBEAPA) no jornal Última Hora, ícone das décadas de 50 e 60, narravam humoristicamente os absurdos que aconteciam em uma nação de tamanho continental, pobre e à beira de uma ditadura militar.
O Festival de Besteiras era mania, caiu no gosto popular: nenhum tema era negligenciado, das mazelas políticas até a televisão, que segundo ele, era a “máquina de fazer doido”, virava assunto na boca do povo.
A família Ponte Preta era profícua, havia um panteão de “parentes” de Stanislaw que também descreviam o Brasil daquele tempo nas páginas dos jornais, Primo Altamirando (Mirinho), Rosamundo e Tia Zulmira desfilavam a malandragem saudável e imprescindível à crônica literária saída diretamente da pena de seu criador.
A ironia e sagacidade de Sérgio Porto influenciou toda uma geração de cronistas, dos mais humorados não existe um que não tenha em suas leituras fundamentais alguma dose de suas histórias. Não há quem tenha fugido de Sérgio Porto, de Luis Fernando Veríssimo a José Simão, de Millôr a Jaguar, ninguém escapou.
Como a crônica é o conteúdo mais duradouro de um jornal, após esse virar embrulho pra peixe, elas ressurgem em compilações livrescas. Esse é o caso da obra de Stanislaw. Hoje podemos encontrar em um único volume lançado pela editora Companhia das Letras o que anteriormente estava disponibilizado em três: FEBEAPA 1, 2 e 3.
Além das crônicas, Sérgio Porto deixou mais três livros, igualmente reeditados, para o deleite de seus apreciadores. Como os bons sempre vão antes, Sérgio Porto faleceu precocemente vítima de um infarto aos 45 anos em 1968.