A literatura distópica pode ser certeira! George Orwell, Isaac Asimov e Anthony Burgess provaram isso
Desde que um canal de TV holandês se inspirou no célebre livro de George Orwell, 1984, para criar um dos reality shows de maior sucesso até hoje já vistos, o público redescobriu a distopia em diversas expressões artísticas, principalmente na literatura.
A distopia é a prima pessimista da utopia. Nela pode-se ver um futuro catastrófico perdido em meio à tecnologia, experimentações genéticas, guerras, esvaziamento de pensamento crítico, totalitarismo, drogas, robôs truculentos, economias esfaceladas, entre outros fenômenos igualmente ruins.
O que há em comum entre todas as distopias, além de narrar um futuro nada seguro para a humanidade, é a capacidade de prever determinados acontecimentos que, sem perceber, aderiremos em nosso dia a dia. Quase sempre ela acerta.
Muito do que foi escrito por Isaac Asimov há mais de meio século, por exemplo, nos parece particular em muitos lugares e situações, assim como o próprio Orwell quando anteviu ditaduras de diversos matizes ideológicas em sua obra.
O que fascina na distopia é a criatividade que seus autores têm em escrever histórias coerentes com fatores tecnológicos ainda recém-descobertos em uma narrativa que envolva outros desdobramentos no campo social e político.
Em Eu, robô, de Asimov, se nota claramente isso, uma sociedade sitiada por robôs em um mundo pós-capitalista, sendo que o mais curioso é a perfeita junção de teorias e tecnologias já existentes em seu tempo com o que ainda não havia acontecido de maneira extremamente realista. Ou seja, uma distopia certeira.
A distopia é um dos gêneros literários mais impactantes; os jovens são os que mais se identificam, seja em um livro ou numa série como Black Mirror, são eles os mais curiosos em saber quais as mais trágicas possibilidades de nossa civilização. E é neste contexto em que a distopia ganha espaço, ela nos mostra um espelho, e nele nos reconhecemos.
Em A Laranja Mecânica, Anthony Burgess chegou a declarar mais tarde que se arrependeu ao escrevê-lo. Segundo ele, sua obra havia fornecido subsídios para milhares de jovens sem perspectiva social alguma a ingressar no mundo da violência.
Estava Burgess certo sobre sua afirmação ou apenas se sentia culpado por fazer uma previsão demasiadamente verdadeira e assustadora? Fiquemos com a segunda alternativa, pois como se sabe, no mundo da literatura tudo é possível, o bem e o mau, o sagrado e o profano, o futuro e o passado, a beleza e o horror.
E, se a literatura tem o poder de prever o futuro, o povo tem o poder de barrá-lo, se assim quiser.