A filha do senador 020 – Gisele Corrêa

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Como todas as manhãs da semana, assim que levantei e tomei café, o Horácio me levou ao hospital. Passei a manhã toda com a dona Carmem, mas dessa vez não consegui ler nem uma página. Isso porque assim que entrei, ela percebeu que eu estava diferente, e acabei passando a manhã toda falando do Gui e o quanto estávamos felizes.

Almocei com ele e depois fomos juntos até a Universidade onde ele tinha que renovar a matrícula. Ele me apresentou a todos os seus amigos e professores e não tenho como esconder cada vez que ele dizia: “esta é Cléo minha namorada”, eu sentia bolhinhas de felicidade movendo-se no meu estômago.

Minha mãe passou na pizzaria para me pegar, e aproveitou para ficar um tempo de papo com a Isabel, que ficou animada com a possibilidade de voltarem a estudar.

Fomos dormir cedo, ainda estávamos cansadas por termos dormido tão tarde na noite anterior, e queríamos colocar o sono em dia.

A sexta-feira foi um pouco diferente, minha mãe levou-me a uma clínica onde fiz uma grande bateria de exames (dos quais não faço idéia sobre seus objetivos), depois me levou ao hospital (eu já considerava essas visitas como compromissos inadiáveis), e foi me buscar perto da hora do almoço. Lanchamos no shopping e passamos a tarde fazendo compras.

O Ricardo ligou no meio da tarde, queria nos convidar para sair à noite, minha mãe estava quase recusando, mas fiz tantas caretas ao seu lado que foi obrigada a aceitar.

Liguei pro Gui para saber se ele iria conosco e acabei descobrindo que havia saído e só voltaria mais tarde. Pensei seriamente em voltar pra casa e ficar esperando que ligasse e desta vez foi minha mãe quem me convenceu a ir.

Voltamos pra casa pra tomar um banho e nos arrumar (minha mãe de repente havia ficado animadíssima).

O Ricardo passou pra nos pegar e fomos jantar em um restaurante legal (fiquei feliz em perceber que não era cheio de frescura). Eu estava meio deslocada e tinha medo de ficar ali só empatando a vida dos dois. Ele escolheu uma mesa próxima ao palco vazio:

– Acho que aqui está bom, podemos ver melhor os músicos… (sorria).

Eu estranhei a afirmação, afinal não tinha o hábito de ficar olhando os músicos enquanto comia. Geralmente eu nem prestava muita atenção no que estavam cantando, e ficava só conversando com quem estivesse ali comigo.

Olhei ao redor a procura de algum conhecido (como se eu tivesse muitos), e encontrei os trigêmeos do mercado em uma mesa não muito distante. A Marina acenou animada e eu retribui.

Fizemos o pedido, e ficamos de papo furado enquanto esperávamos. No palco começaram a cantar um rock leve (eu era capaz de jurar que fossem cantar MPB), não prestei atenção até que o Ricardo pediu silêncio, iam falar alguma coisa.

Olhei para o palco e quase tive um ataque de tão nervosa, o Guilherme estava parado ao microfone com sua guitarra azul pendurada no pescoço:

– Nós vamos oferecer a próxima música para uma garota muito especial. Cléo, esta canção marca o momento em que me apaixonei por você.

Descobri neste momento que eu era a tímida do casal, porque fiquei realmente muito vermelha, enquanto ele me jogou um beijo e voltou para o seu lugar no palco, devolvendo o microfone a um de seus amigos, que começaram a cantar “Girassol”, a música que tinha me feito chorar.

Mas não foi só isso que eu descobri, porque a ex-namorada do Gui resolveu se manifestar bem naquela hora, veio rapidamente em minha direção. Eu achei que ela queria me dizer alguma coisa ou até mesmo me convidar pra sentar na mesa deles, mas me enganei completamente.

– Então é isso! A garotinha do senador vem pro interior e fica feliz ao lado do namorado das outras… (eu estava assustada, e não sabia direito do que ela estava falando).

Eu estava morrendo de vergonha e não sabia o que fazer com aquela doida gritando ao meu lado. Pensei em levantar pra tentar explicar, mas não foi preciso porque outra garota (esta de cabelos coloridos), chegou e começou a falar muito rápido.

– Dana cala a boca! (falou puxando a outra para trás). Olha Cléo, desculpa, ela ainda não está conformada…

– Não, tudo bem… (respondi me refazendo do susto).

Atrás da Marina o irmão segurava a garota que tentava sair, dois garçons vieram ver se estava tudo bem e pediram que eles se acomodassem ou teriam de mandá-los sair.

– Droga! (ela continuou sentando-se ao meu lado enquanto o irmão obrigava Dana a sentar-se em seu lugar). Meu pai vai nos matar se souber o que ela fez… (parecia mesmo chateada).

Minha mãe assistia a tudo chocada, ao lado dela o Ricardo parecia pronto a intervir.

– Tá tudo bem… (falei tentando tranquiliza-la), no que depender de mim ele nunca vai ficar sabendo…

– Obrigada Cléo… O Gui é um cara muito legal e olha fica tranquila, faz um tempão que eles terminaram, só a Dana que ainda não percebeu…

– Tudo bem… (eu repetia sem saber o que dizer).

– Eu vou voltar pra nossa mesa… (ela havia se levantado). A gente se vê…

Ela voltou a sentar com os irmãos e eu fiz de tudo para não olhar naquela direção.

O Gui veio nos visitar preocupado no intervalo, queria saber se estava tudo bem comigo, e pediu que eu tentasse esquecer o ocorrido:

– Eu te falei que ela era maluca… (comentou antes de voltar para o palco).

Ele continuou tocando depois que saímos, mas garantiu que eu era a sua namorada e que ele não queria nada nem com a Dana, nem com qualquer outra garota. Eu queria ficar ali (não importava o que ele dissesse, ainda estava insegura), mas íamos todos nos ver na manhã seguinte, (finalmente eu conheceria a cachoeira) e queríamos dormir cedo para estarmos bem descansados.

O Ricardo foi nos levar em casa, e tratei de sair do carro assim que chegamos.

– Valeu Ricardo, foi muito legal (disse abrindo a porta estava me empenhando para esquecer o acontecimento inesperado)…

– Que bom que gostou, então nos vemos amanhã? (perguntou).

– Mal posso esperar, já avisei a dona Carmem que só poderei vê-la no domingo…

– Ela vai sentir sua falta…

Acenei pra ele e andei em direção à porta, esperava que a minha mãe fosse demorar um pouco pra entrar então entrei e fui direto pro meu quarto. Ela passou minutos depois para me dar boa noite, e percebi pelo seu estado de espírito que não tinha sido naquela noite.

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