A filha do senador 025 – Gisele Corrêa

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Nós nos encontramos com a Marina e o Binho no shopping pouco depois. Assistimos a um filme policial (eu tive muito tempo para ficar de olhos fechados) e depois jantamos na praça de alimentação.

Eles ainda queriam esticar, e ir a uma balada, mas eu estava mesmo cansada e o Gui concordou em me levar pra casa.

Minha mãe estava na sala de vídeo assistindo TV, então nos juntamos a ela. Ele sentou no sofá e eu me deitei apoiando a cabeça e seu colo.

Acordei quase duas horas depois quando ele disse que eu deveria ir dormir na cama, porque ele tinha mesmo que ir embora.

– Já? (perguntei sonolenta).

– Mas eu estou aqui há duas horas! (falou emburrado). Você é linda até quando está dormindo, mas eu estou cansado…

– Desculpa amor, mas eu não consegui aguentar…

– Tudo bem, mas amanhã a gente conversa tá? Eu passo te pegar no hospital se você quiser…

– Eu não sei bem que horas vou sair de lá… (avisei).

– Tudo bem, me liga que eu vou, quero aproveitar bem minha última semana de férias… (ele voltou a sorrir). Seu cabelo está o máximo…

Olhei meu reflexo no vidro da janela, estava mesmo engraçado, fios finos de cabelo se arrepiavam para todos os lados e do lado direito onde eu havia deitado estava todo emaranhado, como um ninho de passarinho.

Arrumei um pouco com os dedos e fui com ele até a porta. Já havíamos esquecido a pequena discussão.

– Não esquece de me ligar tá? (perguntou depois de me beijar).

– Pode deixar… (abracei-o).

Ele não foi embora imediatamente, na verdade eu meio que acordei quando começamos a nos beijar, então sentamos na escada da frente e ficamos lá namorando um pouco.

Acordei renovada na manhã seguinte, minha mãe me levou cedo ao hospital (isso não sem reclamar bastante por causa do horário).

– Não vejo a hora que você faça sua carteira (falou antes de me deixar).

A Ester já me esperava, então pediu para que uma das enfermeiras me acompanhasse até a área restrita.

Dona Carmem ainda estava dormindo quando cheguei, então sentei-me novamente na poltrona e esperei.

Ela acordou pouco depois, e mesmo com o susto inicial (não esperava me ver tão cedo), acho que gostou então depois da conversa inicial, fomos direto a leitura.

Acho que Dom Quixote não era somente um lunático, não além de lunático ele também era muito encrenqueiro. Perdi a conta da quantia de brigas em que ele se meteu.

Tínhamos evoluído muito nesta manhã e quando sai (novamente perto das 14h), faltava pouco para que terminássemos.

O Ricardo passou por lá duas vezes, e na segunda avisou que ela estaria no seu quarto normal no dia seguinte.

– Ela já está melhor? (perguntei quando conversávamos na recepção).

– Não se pode dizer com certeza, ela está melhor agora, e vamos fazer o possível para que continue assim, mas não sabemos quando pode ter outra crise.

A resposta não me animou muito, queria que dissesse que estava fora de perigo e que logo voltaria para casa, mas isso já era pedir demais, então fui obrigada a me contentar.

O Gui foi me buscar e passamos o resto da tarde na casa dele ouvindo música.

Ele tentou me ensinar a tocar teclado, mas me confundia toda e parecia que estavam faltando-me dedos. Acabamos passando mais tempo rindo das minhas trapalhadas do que qualquer outra coisa.

Já estava escurecendo quando voltei pra casa (minha mãe foi me buscar). Aproveitei que ainda era cedo para ver um pouco de TV (desta vez acordada) com a minha mãe.

Jantamos descentemente (há tempos que não fazíamos isso) e depois aceitei o convite dela para jogar xadrez. A mesa ainda estava do jeito que tínhamos deixado, na última vez.

– Então não vai mesmo me contar o que estava fazendo naquele dia? (ela tinha aquele sorriso maroto de mãe).

– Já disse estávamos só conversando, só começou a rolar alguma coisa no cinema…

– Está bem! Eu acredito… (falou antes de movimentar um dos cavalos).

Não é fácil jogar com a minha mãe, ela teve anos de treino com o vovô, um cara que dificilmente perde uma partida. Minha avó gosta de brincar que ele não pode jogar com os aposentados na praça porque não é nenhum pouco humilde para deixá-los ganhar, ao que ele responde “Se quer mesmo uma coisa, lute por ela”.

Minha mãe quase me venceu em um momento que eu não encontrava a saída, e tive que pensar bastante, mas depois de comer seus dois cavalos (as peças preferidas dela), fiquei mais relaxada e consegui vencê-la.

– Logo se vê que é neta do seu avô… (brincou enquanto subíamos para o quarto).

– Tá bom, como se a senhora não fosse a filha dele…

– Vai ver que pula uma geração… (eu entrei no quarto e ela me seguiu).

– Você vai ao hospital amanhã? (perguntou).

– Vou, vamos terminar o livro. Por quê?

– Vou pegar os resultados dos seus exames, e já aproveito para entregá-los ao Ricardo quando eu for te buscar.

– Vai falar com o Ricardo é malandrona? (era minha vez de tirar onda com ela).

– Não começa Cléo… (segurava-se para não rir). Olha só vai dormir que amanhã a gente conversa (mudou de assunto).

– Tudo bem eu vou dormir… (beijei sua testa). Dorme com os anjos e sonha com ele…

– Tá ficando muito saidinha… (estava na porta).

– É o ar puro do campo! (gritei quando ela já tinha fechado a porta).

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