A Filha do Senador 027 – Gisele Corrêa

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Fiquei lendo e vendo TV ali mesmo até que o celular tocou. Era a campainha VIP, então nem olhei o número pensando que deveria ser o Gui que tivesse esquecido de falar alguma coisa.

– Fala… (eu disse animada, ouvir aquela voz era sempre bom).

– Cléo que bom que você atendeu… (eu não podia acreditar na voz chorosa no outro lado), eu sei que você está magoada…

– Elaine? (tinha esquecido de apagar aquele número). O que você quer?

Eu tinha pensado em desligar, mas a curiosidade era maior, queria saber qual o tamanho da sua cara-de-pau.

– Ele me deixou… (ela continuou, chorando muito). Disse que eu não era boa para sua carreira, que não fazia bem para um político renomado, e bem quisto… (chorava cada vez mais e era difícil entender o que dizia).

– Elaine se acalma… (não acreditava no que eu estava dizendo).

– Cléo, eu fiz burrada, tava bêbada na balada, mas depois fiquei achando que daria certo… Mas ele não quer mais me ver…

– E o que você esperava? De uma cara que traiu a própria esposa? Felizes até que a morte os separe? Por favor!

– As meninas não querem falar comigo! Disseram que por minha culpa tinham se afastado de você! Aquelas interesseiras…

Tinha que concordar com ela, nossas “amigas” não eram mesmo nada leais, a nenhuma de nós.

– Eu acabei com a minha vida! Perdi tudo! (estava desesperada).

– Não, você não perdeu tudo (falei com firmeza). Você ainda tem a sua família, seus pais podem estar bravos com você agora, mas vai passar, sempre poderá contar com eles.

Eu sabia do que estava falando, foi com o sofrimento que minha mãe se manteve forte, e com a calmaria me ensinou a continuar remando.

– Obrigada amiga, sei que não me perdoou, e te entendo, mas obrigada por não me virar às costas…

– Eu é que agradeço… (falei antes de desligar, mas ela não percebeu a minha ironia).

Fiquei imaginando o que meu pai pretendia com aquilo, e resolvi que era melhor não contar a minha mãe, ela estava muito melhor sem ele.

Desci para tomar alguma coisa, e passei pela sala, os dois estavam sentados no sofá. Não havia nada de comprometedor (pelo menos eu não vi nada), mas estavam conversando animadamente. Eu sorri, as coisas estavam indo bem.

Fiquei um bom tempo na cozinha conversando com a Marta, ela queria saber se eu estava bem, e respondi com sinceridade que sim.

Eu não estava mais abalada com a morte da dona Carmem, eu tinha feito a minha parte, fiz feliz. E não me preocupava com o meu pai, nem com a Elaine. Ele era um sem-vergonha, ela uma sem-cabeça…

Não havia nada que eu pudesse fazer, eu também não me sentia com vontade de fazer alguma coisa. Eles tinham feito uma escolha e eu já havia realizado o meu papel nessa história.

Ainda estava na cozinha quando o casalzinho apareceu rindo.

– Então quase pronto? (minha mãe perguntou). Oi filha, não vi você passar… (novidade). Achei que ainda estivesse no quarto.

– Estava com sede… (ergui meu copo de suco).

– Quer que eu ponha a mesa? (a Marta perguntou, e um cheiro muito gostoso começou a escapar das panelas).

– Marta você fez sopa? (eu caminhei até o fogão para ver o conteúdo da panela maior).

– Sopa de feijão! (respondeu satisfeita).

– Minha sopa preferida! (falamos quase ao mesmo tempo).

– Eu já sabia… (ela deu um risinho). Conheço o apetite dos três! Então ponho a mesa?

– Podemos comer aqui mesmo… (o Ricardo sugeriu). A sopa fica mais quentinha, e podemos lembrar do tempo em que seus pais não nos deixavam comer com os adultos…

Eles riram, esta lembrança parecia ter agradado aos três…

– Por mim tudo bem, (minha mãe pegou cinco pratos fundos). E o Horácio? Eu não o vi hoje…

– Ai Lu… Tá lidando com os cavalos, seu pai vai mandar um cliente para vê-los então ele tem que deixar tudo em ordem…

– Mas ele não vem jantar? (perguntou).

– Anda chegando cada dia mais tarde…

– Acho que vai ter que fazer outra coisa pra ele comer, porque não vai sobrar uma gota (eu já estava me servindo).

A sopa estava mesmo deliciosa. Comi bastante e tive medo de que viesse a me fazer mal.

Minha mãe ficou até tarde conversando com o Ricardo e passou pelo meu quarto quando ele foi embora.

– Alguma novidade? (perguntei)

– Nós nos divertimos… (sentou-se na poltrona).

– E?

– E mais nada, devo ter perdido o jeito… (brincava com um cubo mágico que tirou de uma das prateleiras). Ficamos conversando tanto tempo e nada!

– Talvez ele ache que a senhora ainda goste do papai…

– Meu Deus! Seu pai me traiu! Eu seria uma idiota completa se voltasse com ele… Nosso casamento já foi um erro no passado, não pretendo errar de novo no presente…

– Mas você disse isso a ele? (ela ficou em silêncio) Mãe ele já sofreu bastante no passado, então eu não sei se seria inteligente da parte dele se arriscar por alguém que pode estar envolvido com outra pessoa… Acho que antes de tudo a senhora tem que decidir se quer mesmo ficar com ele, se a resposta for sim, vai ter que se expor um pouco mais…

– É quem sabe você tenha razão… (falou levantando-se para sair). Vou tentar ser mais objetiva.

– É isso aí!… (animei-a).

– Há… Eu já ia esquecendo, ele levou seus exames, disse que vai dar uma olhada e amanhã fala com a gente.

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