As obras de Jorge Amado foram e ainda são muito lidas no Brasil, assim como no exterior. Mas a grande questão é: por que o escritor é tão importante no cenário da literatura brasileira?

Jorge Amado é um importante escritor brasileiro porque é fundamental na valorização do negro no Brasil. O negro, quando chegou ao Brasil, trouxe da África contribuições efetivas à nossa civilização e cultura. O escritor revela uma identidade brasileira que muitos não aceitam, sobretudo parte da elite do país. Raramente, no Brasil, alguém não tem alguma marca identitária africana ou indígena.
Desse modo, a literatura de Amado é um espaço de superação do que há contraditório em nossa real identidade cultural. O escritor é lógico, suas narrativas não são meramente ficcionais. É dessa forma, desvendando parte da cultura e identidade nacional, que têm grande influência do negro, que a narrativa de Mar Morto é elaborada. A obra é constituída entre produção literária e a história do Brasil.
Inicialmente, a obra parece uma simples história do cotidiano de marítimos, homens que saem de suas moradias para enfrentar o mar. Estes deixam mulheres e filhos em casa para trabalhar; com o tempo e com a violência do mar, alguns não voltam. As mulheres passam, na maioria esmagadora dos casos, a se prostituir. Aparentemente, a centralidade do romance está em dois personagens, Guma e Lívia. A moça não era do mar, não morava na beira do cais, mas troca a vida tranquila com os tios para ficar com Guma, um valente marítimo, reconhecido por todos por sua bravura e feitos. No entanto, não é só isso, Jorge Amado foi bem mais além do que uma simples história sobre homens que navegam e mulheres que esperam por seus maridos.

Os protagonistas são os povos violentados sistematicamente e fisicamente, humilhados, esquecidos e emudecidos. O escritor retira esses protagonistas do total silêncio o qual foram condenados. No romance, as manifestações das vozes afrodescendentes assumem total dimensão, a ação decorre dessas vozes que constroem uma identidade afro-brasileira, uma característica literária forte de Amado para constituir a história do país.
Como declara o pesquisador José Benedito dos Santos, ao recriar no romance o mito de Iemanjá e Orungã, o escritor Jorge Amado faz de Mar morto uma espécie de “certidão de nascimento” da real identidade brasileira. Com isso, o autor faz com que nós reflitamos sobre o valor da cultura africana. Além de fazer com que valorizemos as referências africanas na constituição de uma memória coletiva do povo. No romance, vemos detalhadamente a maneira como os afro-brasileiros encaram a felicidade, a tristeza, a religião, a vida e a morte.
Referências:
AMADO, Jorge. Mar morto. Rio de Janeiro: Record, 63ª ed., 1990.
SANTOS, José Benedito dos. A recriação do mito de Iemanjá e Orungã: uma leitura do romance Mar Morto de Jorge Amado. Revista Decifrar, Manaus/AM Vol. 01, nº 01, 2013.