Há tempos (ou desde sempre) existe uma classificação para a literatura entre boa e ruim. Mas até que ponto podemos levar essa consideração a um nível crítico para inclusão ou exclusão de livros?
A separação entre bom e ruim precisa ser avaliada e reavaliada, é tudo uma questão de perspectiva. Os adjetivos seguem carregados de opinião pessoal, e aí está o cuidado que devemos ter antes de rotular um livro. Considerar como ruim ou bom, principalmente sem antes ter conhecimento da obra, nem sempre é a realidade. E tal fato, vai até além da literatura.
Hoje classifica-se como literatura ruim quase tudo o que se torna popular. Muitas vezes, sem embasamento crítico, uma obra pode carregar o rótulo pessimista como verdade popular. Claros exemplos fazem parte dessa visão, entre eles as séries: Cinquenta tons de cinza, Crepúsculo e inclusive, Harry Potter. Apesar das críticas negativas espalhadas aos quatro cantos, as séries conquistaram milhares de fãs no mundo todo e tornaram-se best-sellers.
O questionamento aqui vai além. Se elas possuem narrativa bem empregada, enredo significativo ou personagens que se tornaram referência, não vem ao caso (esse é o tipo de reflexão que deve ser feita em outro momento). A análise aqui é outra: os livros tornaram-se populares, ganharam o gosto das pessoas, trouxeram novos leitores ao perigoso mundo dos livros, e renderam milhões em faturamento.
Harry Potter é um exemplo importantíssimo para se citar: muitos dos atuais leitores fervorosos iniciaram sua vida de leitura com a série. Isso é ruim? Não! Muito pelo contrário.
Todos já lemos (iniciantes ou não) um livro de narrativa fácil, de linguagem popular e atual e com um tema abordado contemporâneo. É muito difícil para um “não iniciado” começar sua vida de leitura com livros de linguagem difícil de entender, com narrativas muitas vezes cansativas e argumentativas. Muitas vezes, quando forçado a isso, ele começa a ter a visão contrária da leitura: passa a odiá-la.
Ler um livro popular significa que você jamais lerá um livro cult? Os livros fáceis são a porta de entrada para muita gente conhecer e adentrar ao mundo dos livros e aprofundarem-se nos de linguagem mais robusta e complexa. Além de que, se você nunca ler um livro pop, nunca terá embasamento para discutir ou comparar as obras fáceis com as difíceis, ou ruins com boas.
Então, por que os leitores experientes classificam, muitas vezes, como ruim a literatura que ganha gosto popular?
Pelo simples fato de uma opinião pessoal. Gostar ou não de um livro não o faz ser bom ou ruim para uma sociedade inteira.
Temos também hoje a considerada literatura boa. Muitas vezes livros de difícil narrativa e compreensão, com temas, vez ou outra, polêmicos. Se elas são boas? Sim, claro. Mas nem sempre é a literatura que vende para massa (lembrando que vivemos em um país que não tem uma cultura de leitura e também tem uma educação precária). O que também não a faz uma literatura ruim.
A experiência literária te faz ser seletivo. E essa seleção é natural. Automaticamente, você terá classificado os livros bons e ruins para você, o que não necessariamente reflete o gosto da sociedade.
Devemos lembrar também que os clássicos de hoje já foram populares um dia. Escritores também precisam de dinheiro, e muitos deles escreviam aquilo que o público-leitor gostaria de ler. O tempo passou, e hoje os livros são considerados grandes clássicos da literatura. Com todos foi assim? Não. Mas a maioria dos grandes escritores já foi popular um dia. O fato também não garante que os livros que muitos consideram ruim hoje se torne um clássico daqui a alguns séculos, mas, de fato, eles serão estudados no futuro como o movimento literário do nosso século. Essa é nossa literatura contemporânea que vende.