A livraria que só vende livros censurados

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É recorrente o pensamento de que um governo domina seu povo controlando os livros que se lê. Em A Muralha da China, Kafka apresenta a história dum imperador que queima todos os livros do período antes dele. Assim, no futuro, as pessoas veriam em sua figura o ponto de referência, de início dum grande império.

Não é bem assim que acontece com a China hoje, mas existe sim a censura, o que abre espaço para uma livraria muito inusitada.

Situada na área de compras dos turistas em Hong Kong, a People’s Recreation Community é uma minúscula “livraria-café-espaço comunitário”. O epíteto de “livraria dos livros censurados” não foi nenhuma ação de marketing, como se poderia esperar na nossa metade do globo. No princípio, em 2002, o foco eram livros de arte e literatura. Mas o golpe de sorte, não planejado, foi a impressão causada pela imagem de Mao Tsé-Tung na fachada da livraria. O público passou a ver a livraria como especializada em livros políticos.

Interior da livraria
Interior da livraria

A demanda de livros censurados estourou após a Feira Anual do Livro de Hong Kong, em 2008. A livraria foi visitada por uma jornalista da revista Phoenix Weekly que  cobria a feira. Ela estava escrevendo sobre livros políticos publicados na cidade. Após perguntar a Paul Tang, dono da People’s Recreation Community, qual era o “top 10” da livraria, ela foi embora. Pouco tempo depois, um artigo foi publicando em Pequim – e logo censurado –, tornando o local um verdadeiro fenômeno de vendas.

Na realidade, metade do estoque é de livros censurados, divididos entre livros históricos e assuntos do momento.

Estes livros censurados exercem o fascínio nos chineses. Bom, já diz um ditado que “o proibido é mais gostoso”. As publicações, que em sua maioria vêm do Taiwan, são a única alternativa para quem deseja ter a versão impressa dos livros condenados pelo Partido Comunista.

Já pensou ter que escapar da censura para ler o que você quer?

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