A matemática do crime

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Algoritmo criado por pesquisadores da Queen’s University de Belfast é capaz de revelar quem é o assassino nos romances de Agatha Christie; o estudo foi realizado em comemoração aos 125 anos de nascimento da autora, celebrado no dia 15 de setembro

Agatha-Christie

A romancista, contista, dramaturga e poetisa Agatha Christie ludibriou seus leitores, em 83 livros, pelos caminhos tortuosos da execução de um crime, oferecendo pistas falsas e pseudo-assassinos, a fim de levar o suspense das suas obras até as últimas páginas dos romances detetivescos.

Por meio de personagens célebres, como Hercule Poirot, Miss Jane Marple, o casal Tuppence e Tommy Beresford, Parker Pyne e Ariadne Oliver, os leitores puderam acompanhar pelo olhar arguto desses detetives o desenrolar das investigações criminais e apreender, em detalhes, o raciocínio de uma mente criminosa, assim como as minúcias da investigação, em que nada escapa aos olhos experientes de um investigador intrépido e curioso.

No próximo dia 15, comemora-se os 125 anos de nascimento da “dama do crime”, como também ficou conhecida. Na juventude, a autora serviu no exército britânico durante a Primeira Guerra mundial, na área de remédios de um hospital. Esse trabalho teve grande influência em suas obras, já que vários de seus livros têm como mote o assassinato por meio de envenenamento. O primeiro livro a ser publicado foi O misterioso caso de Styles, em 1920. A partir de então, fez tanto sucesso que foi registrada no livro Guinnes, o famoso catálogo de recordes, como a autora com mais livros vendidos em todo o mundo, independentemente do gênero. Estima-se que sejam mais de 4 bilhões de cópias traduzidas para mais de 100 idiomas.

Motivados pela comemoração de aniversário da romancista, pesquisadores da Universidade de Queens, em Belfast, na Irlanda do Norte, desenvolveram uma série de cálculos para determinar, antes do fim da obra, quem seria o assassino. A linha de raciocínio para a criação dos algoritmos parte dos padrões de escrita de Agatha Christie. Após os estudos, os pesquisadores determinaram que a dama do crime repete algumas características dos criminosos, mas que elas mudam de acordo com o gênero do personagem. Mulheres teriam falas mais negativas desde o início do livro. Os homens são mais simpáticos e agradáveis desde o começo ou não oferecem muitas pistas sobre o comportamento psicológico. Os critérios que entram na fórmula para determinar a identidade do assassino são: o detetive (Miss Marple, Hercule Poirot); a relação dos personagens com a vítima; o modus operandi do crime ou método de assassinato; o capítulo onde o possível assassino é introduzido e, por fim, o número de menções a um determinado personagem. Existe, por exemplo, uma probabilidade de 75% do assassino ser uma mulher, mas se a vítima foi estrangulada, o crime tem mais chances de ter sido cometido por um homem.

A análise foi encomendada pelo canal britânico TV Channel Drama. Os pesquisadores utilizaram 27 obras da autora para determinar o padrão dos algoritmos.

Há quem diga que os romances de Agatha Christie são repetitivos e têm uma fórmula de escrita constante em várias obras. Mas o argumento é logo quebrado, quando se vê a longa carreira da autora na dramaturgia e a longevidade do sucesso de suas peças de teatro. O texto de A ratoeira é apresentado no West End (zona de teatros londrina) desde 1952. A escritora também produziu outros gêneros de romances sob o pseudônimo de Mary Westmacott.

Independentemente de teorias mirabolantes sobre a criação literária de Agatha Christie, vale aqui uma frase clássica do famoso personagem Hercule Poirot, o detetive belga mais famoso da literatura de detetives: “A imaginação é boa criada, porém, é má conselheira. A explicação mais simples é sempre a mais provável” (CHRISTIE, 2014, p.170).

 

Referência:

CHRISTIE, Agatha. O misterioso caso de Styles. GloboLivros. Ebook. 2014.

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