A música brasileira na literatura

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A música do Brasil é reconhecida mundialmente e se faz presente em obras literárias

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Imagem: Página Cultural

A música brasileira é admirada tanto por nós, brasileiros, quanto por estrangeiros. Não é para menos, visto que a nossa música vai da erudita até a popular. Foi formada, inicialmente, a partir dos europeus e, sobretudo, pelos africanos, isto é, ritmos que vieram parar nestas terras por colonizadores portugueses e pelos escravos. Com o passar do tempo, houve um gigante intercâmbio cultural com outros países, como Itália, França, Espanha, Alemanha, Estados Unidos, entre outros. Ao nosso cenário foi acrescentado, então, ritmos como o bolero, o jazz, o soul, a valsa. Todos estes ritmos foram enraizados no Brasil e o transformaram, musicalmente falando.

Se a música brasileira é tão famosa, tanto pela sua infinidade de ritmos, que contagiam a muitos, quanto pela infinidade de danças que esses ritmos proporcionam, nos perguntamos: como ela se faz presente na literatura?

Bem, primeiramente, a música está presente na literatura, sim, e para demonstrar como ela se fez presente em obras literárias, aqui vai uma modesta lista de livros compostos, de algum modo, pela música de nosso país:

 

Desde que o samba é samba, de Paulo Lins

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Paulo Lins | Foto: Imago Eastnews

Desde que o samba é samba, de Paulo Lins, conhecido por ser o autor de Cidade de Deus,  já carrega no título o samba. E, além disso, é impossível não lembrar daquela música de Caetano Veloso que possui este mesmo nome.  Neste livro, o autor adentra a temática da favela, não para denunciar as violências ou o tráfico de drogas, mas para resgatar o antigo Rio de Janeiro notório pelos seus sambistas, pelas festas populares, que ocorriam, em grande parte, nos terreiros de candomblé.

 

Ho-ba-la-lá, de Marc Fischer

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Marc Fischer | Foto: Karl Anton Koenigs

Em Ho-ba-la-lá, o jornalista alemão Marc Fischer produz um relato em tom policial, uma espécie de caça a João Gilberto, o pioneiro criador da bossa nova, uma lenda viva da música popular brasileira. No livro é narrada a viagem de cinco semanas de Fischer ao Brasil na busca de encontrar o cantor. Evidentemente, como aqueles que conhecem João Gilberto devem imaginar, o encontro não aconteceu. No entanto, o jornalista entrevistou vários outros grandes da bossa nova e até mesmo familiares de João.

 

O Matador, de Patrícia Melo

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Patrícia Melo | Foto: Editora Rocco

Em O matador, a música não surge no título e nem mesmo a música é temática do romance. Neste livro, o personagem Máiquel, sempre fala de Tim Maia, conhecido mundialmente como um dos maiores ícones musicais do Brasil, que é o grande responsável pela introdução do soul na música brasileira. Tim Maia é conhecido por suas músicas que fazem o nosso coraçãozinho doer ou pelas músicas atreladas à doutrina filosófico-religiosa conhecida como Cultura Racional. Máiquel nos diz que o homem é responsável pelos seus pensamentos, pode controlá-los, mas quando não consegue, pode cantar músicas do Tim Maia – como se as músicas fossem uma válvula de escape. Além disso, no livro é citado os bailes de funk, estilo musical oriundo das favelas do estado do Rio de Janeiro, que é diferente do funk americano.

 

Companhia brasileira de alquimia, de Manoel Herzog

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Manoel Herzog, vulgo Germano Quaresma | Foto: Elaine Tavares

No livro de Herzog, Companhia brasileira de alquimia, o narrador é um operário bipolar que deseja um dia se tornar escritor; a temática central está nos operários que se submetem à escravidão, isto é, às horas de trabalho absurdas, tema pouco comum na literatura brasileira. Em que momento, afinal, há música nesse livro? O bipolar trabalhador nos apresenta aquilo que ele denomina como Inconsciente FM, que seria, basicamente, músicas que passam por sua mente. Ao longo do livro, ele canta vários trechos de músicas brasileiras, tais como “Tenho sede”, conhecida da voz de Dominguinhos e Gilberto Gil; “Tive sim”, do Cartola; “Torresmo à milanesa”, de Adoniram Barbosa, na voz de Clementina de Jesus, entre muitas outras.

 

Tropical sol da liberdade, de Ana Maria Machado

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Ana Maria Machado | Foto: Revista Pontocom

Tropical sol da liberdade é um livro sobre a história dos anos de repressão e sobre a juventude do Brasil após 64, isto é, o período ditatorial. No livro, Ana Maria Machado colocou várias referências musicais no começo dos capítulos, como epígrafes, além de trechos de poemas. Claro que, de alguma forma, todos os trechos musicais estão relacionados à temática da obra. Temos trechos de músicas de grandes nomes da música popular brasileira, como Caetano Veloso, Paulinho da Viola, Maurício Tapajós, Paulo César Pinheiro e Gilberto Gil.

 

Gota d’água, de Paulo Pontes e Chico Buarque

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Chico Buarque e Paulo Pontes | Foto: Mr. Zieg

A peça teatral Gota d’água, de Paulo Pontes e Chico Buarque, também já carrega a música no título, pois este é o nome de uma música de Chico Buarque, também autor da obra, que é conhecida como a “Medeia brasileira” (ou tragédia brasileira), por se tratar de adaptação da peça grega clássica Medeia, de Eurípedes. O texto é dividido em dois atos e retrata uma tragédia urbana em uma favela do Rio de Janeiro, figurada por Joana e Jasão que, tal como na peça original, larga a mulher para casar-se com Alma, filha do rico Creonte. Jasão é um sambista que fez muito sucesso no rádio e onde morava com a música “Gota d’água” (música completa aqui); no entanto, logo após o sucesso, ele larga Joana, que deixou tudo para que ficassem juntos; sem suportar o abandono, Joana se vinga (mas o desfecho não será contado aqui, rs).

 

Além dos livros citados acima, há e haverá muito outros em que a música brasileira perpassa, figura. E não podemos deixar de mencionar os cantores brasileiros que escrevem literatura, alguns deles são: Gabriel Pensador, Chico Buarque – já citado anteriormente – Vanessa da Mata, Caetano Veloso, Vinícius de Moraes, Humberto Gessinger e Tico Santa Cruz.

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