A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adiche nos mostra a receita certa de como a arte deve sempre ser representada
Há pouco tempo atrás uma famosa revista semanal colocou em sua capa a foto de um político corrupto em tom vibrante com a seguinte chamada: “A súbita força de Fulano de Tal”. Isso para não ter que mencionar seu nome mais uma vez, pois a essa altura quase todos já o sabem.
Entretanto, o apoio de tal publicação foi curto, pois mais tarde ela teria que anunciar a prisão do figurão de Brasília como se nada tivesse acontecido antes.
Recorro aqui à História recente do país para lembrar que o tal deputado é um homem branco, rico, heterossexual (até onde se sabe), cristão e conservador, posições essas opostas à da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adiche.
Por isso, a homenagem no título desse texto: A força súbita de Chimamanda. Nada melhor do que reconhecer, sempre que se tiver oportunidade, a importância de uma escritora negra em um mundo em que ainda predomina o falocentrismo ocidental na política e nas artes.
Obviamente, Chimamanda não é só uma ativista reconhecida, afinal, a maior parte de seu ativismo se dá por meio de sua literatura. Narrativas que redescobrem o lugar da África, da mulher e de sua literatura podem ser comprovadas em obras como: Hibisco Roxo (2003); Americanah (2013); e o curto, porém certeiro, Sejamos Todos Feministas (2014).
E é em Sejamos Todos Feministas que, embora seja a publicação do discurso que a autora proferiu em uma de suas mais que badaladas palestras no TED Talk’s, se concentra um dos textos mais influentes no campo da cultura de gênero da atualidade, tão influente que inspirou o nascimento de uma canção da cantora norte-americana Beyoncé, sua notória leitora.
Nele, Chimamanda desenvolve com inteligência e senso de humor o desafio de se educar meninos e meninas dentro de uma esfera feminista inclusiva, demonstrando com sagacidade que a ação feminista pode ser positiva tanto para homens quanto para mulheres. Sejamos todos feministas desde o berço.
Chimamanda Ngozi faz parte da atual safra de talentosas escritoras provenientes do Continente Africano, juntamente com as somalis Ayaan Hirsi Ali, Nadifa Mohamed e muitas outras que depois de vivenciarem realidades adversas em seus respectivos países, transformaram o sofrimento e a desilusão em literatura viva, cativante, revolucionária e principalmente, combativa e destrutiva de estereótipos em torno do povo africano.
Em suma, a receita certa de como a arte deve sempre ser representada.