Depois de 3 anos sem publicar, Adélia Prado quebra seu silêncio poético e traz às livrarias o livro Miserere, uma coletânea de 38 poemas.
Quando eu tenho uma carreira, posso estar triste ou alegre que tenho de trabalhar. Com a arte não é assim. O estatuto é dela.
Adélia Luzia Prado de Freitas é uma das maiores poetas brasileiras viva, passando da marca de 20 obras publicadas. Mineira de Divinópolis, também é romancista, contista e autora de histórias infantis. Seu primeiro livro, A lapinha de Jesus, foi publicado em 1969, em parceria com o escritor Lázaro Barreto, mas para ela sua verdadeira estreia foi só se deu em 1976, com o livro Bagagem. Para a literatura, seu surgimento representou a valorização da mulher como ser pensante, a presença da mulher nas letras.
A autora tira do cotidiano toda a sua inspiração. Aliás, é através e por causa dele que suas obras se estruturam, já que, para ela, a principal força, o impulso, da criação artística está justamente nas coisas miúdas do dia-a-dia, as quais retrata, com maestria, tanto em versos, quanto em prosa.
Trouxe lirismo para a mulher, relatou e refletiu sobre a condição feminina. Adélia assumiu o papel de dona de casa, intelectual, mãe, esposa. Outro ponto imanente a seus trabalhos é o uso dos elementos do catolicismo, o contato humano com o sagrado, a frágil relação entre a alma e a carne.
Sua poesia nasce da “terceira margem da alma”, o que explica explica os 3 anos que levou para publicar um novo livro. Mas é pouco tempo, comparado aos 11 anos que levou até publicar, em 2010, o livro A duração do dia. Adélia não permite que a magia da criação poética passe a inexistir.
O título Miserere vem de “miserere nobis” (tem piedade de nós), é uma representação do espírito do livro. Que traz um olhar conquistado com a idade, mais sóbrio, mas não menos encantado, mais escurecido, mas sem perder a fé na luz. Já que poesia, para Adélia, é justamente isso, uma maneira de ter fé e esperança. Miserere é uma maneira de reconhecer a delicadeza e efemeridade da vida.