É fato sabido que a leitura estimula o cérebro e, assim, ajuda, por exemplo, a memória. Porém, nossa memória é seletiva, o que torna eventuais esquecimentos inevitáveis. Dificilmente alguém consegue lembrar o enredo completo de uma obra, em detalhes, ainda mais se já faz tempo que teve contato com ela. Quando um livro marca a nossa vida, fica mais fácil. E quando passa batido?
Às vezes, hesito ao responder se realmente li determinada obra. Chega a ser vergonhoso para um leitor ferrenho admitir uma coisa dessas, mas infelizmente acontece. Ou lemos na época errada e não compreendemos, guardando uma experiência negativa, equivocada da obra; ou lemos e apenas decodificamos, seja por estar numa fase preguiçosa, imatura, seja porque a narrativa não nos tocou; ou sequer lembramos se lemos mesmo aquele livro, seja pelo tempo que passou ou pela falta de importância que ele teve para nós.
Esquecer títulos, nomes de autores, frases, justamente na ocasião em que precisamos comentar sobre o assunto, é uma angústia. O pior é que, muitas vezes, horas depois, sozinho, num momento relaxado, a informação vem à tona. Paciência.
Ninguém possui uma enciclopédia dentro da cabeça. Ainda mais hoje em dia, época em que temos acesso a tantas informações ao mesmo tempo e precisamos realizar tantas atividades cotidianas. Isso pode atrapalhar nossa memória, que acaba ficando desfocada. Para não se tornar totalmente dependente do Google, o segredo é tentar se organizar. No caso da leitura, facilita escrever comentários no livro, com análises e impressões, fazer um resumo ou resenha pós-leitura, tentar criar associações entre obras, autores, personagens e fatos reais. Afinal, lemos os livros para aprender a ler o mundo, só assim a leitura passa a fazer sentido.
Agora, se, mesmo com tudo isso, sua amnésia literária ainda voltar de vez em quando, fique tranquilo. Não somos infalíveis. E pode ter certeza de que o que verdadeiramente aprendemos com a literatura, fica para sempre dentro de nós, pois modifica nossa essência de maneira imperceptível.
Ilustração: David Plunkert.