A arte de amar, o Carnaval e o Bacanal

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Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo. / Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

Cairia bem numa marchinha de Carnaval, não acha? Porém, os versinhos acima são do poema A arte de amar, do Manuel Bandeira. Saca, né? Sempre que um Carnaval se avizinha, eu vivo a entoá-los, como se fosse o papo do malandro para pôr nas coxas da moça virtuosa, um mantra Dionísico. Evoé Baco, evoé Momo, evoé Vênus!

O Carnaval é a festa da carne e, mais que tudo, do amor. É isso mesmo que você leu. Não há engano. O Carnaval é a festa do amor, minha nega. Então caia de boca nesta folia fugaz, pois, como a vida, o amor se aproveita enquanto dura, e dura bem pouco: um dia, um porre, um gesto, um gemido, um canto, um pulo, uma promessa, um carnaval, um delírio…

Digo que é a festa do amor porque o amor verdadeiro é pagão, livre, festeiro, não se curva a convenções nem pudores, igualzinho ao Carnaval. Deixe-se levar pelo baticumbum, esqueça-se de si para poder entregar-se e unificar-se com o outro, pois como bem advertiu o Bandeira: Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma. / A alma é que estraga o amor.

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Carnaval (Foto: Evandro Teixeira)

E pra celebrar a festa, lá vai mais um poema do Bandeira. Este, poeticamente intitulado Bacanal:

Quero beber! Cantar asneiras
No esto brutal das bebedeiras
Que tudo emborca e faz em caco…
Evoé Baco!

Lá se me parte a alma levada
No torvelim da mascarada,
A gargalhar em douro assomo…
Evoé Momo!

Lacem-na toda, multicores,
As serpentinas dos amores,
Cobras de lívidos venenos…
Evoé Vênus!

Se perguntarem: Que mais queres,
além de versos e mulheres?
– Vinhos!… o vinho que é o meu fraco!…
Evoé Baco!

O alfange rútilo da lua,
Por degolar a nuca nua
Que me alucina e que não domo!…
Evoé Momo!

A Lira etérea, a grande Lira!…
Por que eu extático desfira
Em seu louvor versos obscenos,
Evoé Vênus!

Quem somos nós para discordar de um poeta?

Evoé Baco, evoé Momo, evoé Vênus!

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