Com o título intimista de Meu Kafka, Stefanie Harjes, que vive e trabalha em Hamburgo, Alemanha, criou uma obra, no mínimo, peculiar.
A artista – que estudou na artes em Universidade de Praga, cidade Natal de Kafka – se aprofundou no universo kafkaniano, buscando compreender todas as suas emoções para recriá-las em seus textos e desenhos, os quais misturaria a trechos da obra de Kafka. “O desenho e a escrita são para ela universos paralelos, que às vezes se encontram em meio a brincadeiras e até na dança”, define uma nota da editora Cosac Naify, quem publicou a obra no Brasil, ao final do livro.
Na contracapa há um depoimento da artista Marilá Dardot sobre a leitura da obra:
“Nós, leitores, nos tornaremos cúmplices desse diálogo, e estas páginas vão se misturar aos nossos próprios Kafkas, nossos silêncios e tristezas, às nossas alegrias e insônias. Poderemos, então, recriar a nossa Stefanie Harges”.
Um detalhe interessante da obra é o fato da artista não ter sinalizado o que ela escreveu ou o que Kafka escreveu. Não importa. Esta obra é uma criação coletiva, as imagens se sobrepondo ao texto, e o texto às imagens. Muito embora, a sobreposição não fira a ideologia kafkaniana, o absurdo adaptado ao cotidiano, ou como definiria o estudioso da obra de Kafka e Nobel de Literatura, Guenter Grass, “as fábulas realistas”.
Entre as narrativas do escritor de Praga que aparecem no livro estão: O Processo, A Metamorfose, A Sentença (também conhecido como O Veredito), O Castelo, Um médico rural e América.
Para os fãs de Kafka, e praqueles que ainda não submergiram neste universo tão rico e simbólico, Meu Kafka, de Stefanie Harjes, é uma ótima indicação. Contudo, quem teve o privilégio de ler com rigor as narrativas kafkanianas, certamente tirará maior proveito da obra.