
Com o requinte de um texto bem construído, o livro de poesias de Andrei Ribas, Romântico visceral sob o céu fragmentário, aborda temas como redes sociais e cultura popular e a de massa
Romântico visceral sob o céu fragmentário, livro publicado em parceira das editoras Bestiário e Artes & Ecos, é um ótimo sopro de boa poesia em meio a tantas narrativas. É também um vento agradável em época de perfis de instagram que apostam em versos clichês para ganhar mais e mais seguidores. O autor, o gaúcho Andrei Ribas, é um poeta que explora limites.
A voz de Ribas é uma voz da contemporaneidade. Fala de redes sociais e de cultura popular e de massa com um requinte de um texto bem construído, nos temas e na estrutura. Aliás, Ribas explora variadas formas de se fazer poesia e, neste livro, na maioria das vezes acerta. Quem dera mais poetas se entregassem a esse prazer de brincar com a tradição poética.
Além das atualidades, mostra conhecimento de bons escritores do passado, para, se não desautorizá-los, ao menos dizer que mesmo com toda a história da literatura por detrás, a poesia fora do verso é tão potente quanto a habitual, quiçá mais.
E se uma das forças da literatura é estar no cotidiano e poder quebrar com o cotidiano e o “comum”, Ribas dá cutucadas em poetas piegas “globais”, que estão quase sempre beirando o senso comum, pouco antes de soltar alguns versos aparentemente piegas, não fosse o título do poema (Estupro) nos dizer que se trata na verdade de outra coisa muito maior.
Irônico, crítico e com senso de humor. Uma voz que adota uma postura dupla em inúmeros poemas. De um lado, mostra-se consciente de que, em meio a tanta coisa no mundo, a poesia é realmente desimportante. De outro, mostra que a não importância da poesia para o mundo em geral é exatamente o mal do mundo. Ironia e/ou acidez?
Uma coisa é certa: pelos versos de Ribas entendemos que o poeta não é divino, que não é um ser predestinado, que sabe naturalmente fazer versos – aliás, alguns ainda insistem em apostar nessa figura que, salvos raras exceções, não vale muito desde os ecos do Romantismo em fins do século XIX e XX.
A “poesia é uma merda pronta, incubada no intestino da soberba”, diz o autor em um determinado poema do livro. Sendo merda, a poesia é a necessidade ou a desnecessidade humana? De qualquer maneira, o efeito da obra acabada, no entanto, mostra exatamente o contrário do poema. Não que esses versos não se apliquem a muitas obras e posturas (e como se aplicam!), mas tenho certeza que, no caso de Romântico visceral sob o céu fragmentário (e que título potentemente irônico), não se aplica de jeito algum.