Musas contemporâneas compõem os versos das poesias eróticas de 54 [+ uma] mulheres do baralho, do escritor, ensaísta e professor universitário Erre Amaral
54 [+ uma] mulheres do baralho, de Erre Amaral, é um livro de poesias eróticas. Trata-se de uma obra sobre mulheres, com um pé na filosofia e outro bem fundo no erotismo. O baralho, com todas as suas mulheres, é repleto de fantasias, delírios, desejos, confissões e imagens sacanas.
Nesse livro, a musa deixa de ser aquele ser idealizado e mitológico. As musas-mulheres do baralho, apresentadas em ordem de A a Z, remetem aos desejos da carne de um eu-lírico repleto de inspiração e desejo sexual. No entanto, vale ressaltar, as mulheres não são representadas como mero objeto de desejo no homem, com lugar destinado: sua cama. As donas desse baralho são livres, com seus desejos e fantasias próprias, com prazeres e manias.
Os versos eróticos de Erre Amaral nos arrancam risos de canto de boca, deixam-nos inquietos e até curiosos. São mulheres que retratam as relações amorosas e sexuais deste mundo contemporâneo. São versos que se arriscam, porque apresentam a sexualidade feminina e a relação de um homem com isso, o seu modo de lidar com o assunto, que ainda, infelizmente, é um tabu em nossa sociedade.
Vale mencionar que não apenas jovens mulheres são poetizadas pelo eu-lírico. Temos, por exemplo, “Vicentina”, uma possível vovó: “inesperada popularidade / ser a xoxota mais fodida / do grupo da terceira idade.” (AMARAL, 2015, p. 115). Até porque parece que, para as mulheres do livro, o sexo não é tabu, independentemente da idade, da cor, da raça.
O livro, além de ser repleto de sarcasmo e ironias, é repleto de intertextualidade, o que nos faz viajar num mundo de referências literárias, filosóficas e até mesmo da cultura pop. Taras sexuais das mais variadas? Talvez. Por que não?
Fazem parte do time de mulheres do baralho: Eneida (de Virgílio), Eva, Maria (de João e Maria), Geni, Iracema (de José de Alencar), Jane (par de Tarzan), Olívia (do desenho Popeye), Hannah, Julieta (de Romeu e Julieta), Magali (sim, a própria), Margarida (do desenho Pato Donald). Além das mulheres reais que circulam o cotidiano e o feed de notícias do Facebook de Erre Amaral, para as quais o autor dedica o livro:
Dedico este livro a algumas mulheres do baralho: Adriane Garcia, Ana Elisa Ribeiro, Adri Aleixo, Marcia Barbieri, Simone Teodoro, Aline Dias, Denise Lyrio Pacheco, Marina Ruivo, Neuza Ladeira, Romara Magalhães, Estela Santos, Bianca Velloso, Silvana Guimarães, Mariza Lourenço, Socorro Nunes, Helena Terra, Cris de Souza, Arlene Lopes, Maria Botelho, Érica Justino, Mariana Branco, Pablyane Rodrigues, Erika Badra, Leila Guenther, Lívia Corbellari, Carla Diacov, Tatiana Justel, Patrícia Ferreira, Mariana Collares, Alissia Bloom, Isadora Krieger, Cristina Arruda, Patricia Galelli, Norma de Souza Lopes, Deia Conti, Dhenifer Rocha.
Por fim, mas não menos importante, faz-se importante mencionar as ilustrações presentes em 54 [+ uma] mulheres do baralho. Cada poesia carrega, na página ao lado, desenhos de Patrícia Ferreira. Com maestria e sutileza, a artista ilustrou mulheres, nuas em toda sua força e, ao mesmo tempo, delicadeza. Nuas naturalmente, nada de estereótipos sexuais e padrões de beleza. São mulheres de corpo e formas comuns, mulheres vivenciando seus delírios, desejos e fantasias.
Referência:
AMARAL, Erre. 54 [+ uma] mulheres do baralho. Vitória: Cousa, 2015.