Há algo de podre no reino da Dinamarca. A célebre frase de Hamlet se refere às “forças ocultas” que causaram o maior auê na tragédia escrita pelo bardo inglês. A morte do candidato à Presidência pelo PSB, Eduardo Campos, e de outras seis pessoas na queda de um jato particular, em Santos, litoral paulista, fez surgir inúmeras teorias da conspiração. Ainda mais depois de a caixa preta da aeronave, peça chave para se descobrir as causas do acidente, não ter gravado nadinha. Estranho, é. Um vidente disse ter previsto o acidente e tentado avisar o ex- governador de Pernambuco. Segundo ele, o avião foi sabotado. No velório de Campos, a massa comovida clamava por Justiça! Viu isso?
Não acredito na existência de um plano mirabolante para assassinar Eduardo Campos. O neto de Miguel Arraes tinha mínimas chances de vencer a disputa – embora agora venha sendo tratado como uma espécie de Messias. Quer dizer, não havia motivo para assassiná-lo e torná-lo um mártir. Mas se por acaso o reino da “Dinamarca” for mais podre do que se sabe, o tiro saiu pela culatra. A comoção fez Marina Silva, vice da chapa de Campos e agora candidata da coligação Unidos pelo Brasil, alcançar 21% das intenções de votos. A reeleição de Dilma Rousseff, dada como certa, agora corre algum risco. Será? Aécio Neves deve estar se descabelando.
As chances de Marina seriam maiores se a eleição ocorresse amanhã. Independente do resultado do pleito, que só virar no finalzinho de outubro (haverá 2º turno), a corrida presidencial virou um salseiro danado. Bagunçou o coreto de vez e o marasmo que se desenhava caiu por terra. A coisa ficará mais emocionante. Aproveito para dizer que sempre me soou estranho a aliança de Eduardo Campos e Marina. Eles têm diferenças ideológicas gritantes. Campos assumiu compromissos com quem a ex-senadora não ficaria nem na mesma calçada – quem dirá no mesmo avião. Ela disse que irá cumpri-los, mas os contratempos já começaram. O coordenador da campanha do PSB, ligado aos ruralistas, abandonou o palanque de Marina. O circo já começou a pegar fogo.
Há algo de podre no reino da Dinamarca!
PS – O texto acima foi pensado numa segunda-feira, num bar em Caxias (Baixada Fluminense), a partir das conversas com os amigos Paulo Raider, Orlando de Souza e Mauro.