Bob Dylan, Nobel de Literatura

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Seria possível que o músico e compositor Bob Dylan ganhe o mais prestigiado prêmio literário do mundo?

Há muitos anos, um grupo cada vez maior de acadêmicos tem feito pressão para que a Academia Sueca conceda o Nobel de Literatura a um dos mais famosos compositores americanos de todos os tempos: Bob Dylan. Críticos e acadêmicos dizem que as qualidades do compositor ultrapassam os limites das simples letras populares. Famoso por suas canções folk na década de 1960 que misturavam o tom místico dos simbolistas franceses (Baudelaire e, principalmente, Rimbaud são facilmente reconhecidos em suas composições), o tom da parábolas bíblicas e a cadência da poesia beat (Allen Ginsberg foi influência direta).

A ligação com a literatura vai muito além das influências, que são muitas, no seu trabalho. Robert Allen Zimmerman, seu nome verdadeiro, tornou-se Dylan depois da leitura dos poemas do poeta galês Dylan Thomas.

Isso, porém, não seria o suficiente.

Reflexões sobre a morte, as mudanças políticas e culturais provocadas pela geração baby-boom e a ressignificação do que é ser um humano após a Segunda Guerra Mundial são alguns dos temas tocantes dos seus álbuns. Bob Dylan soube captar com maestria sua geração, além de apresentar um belo painel de uma geração que queria muito (derrubar o capitalismo, acabar com a Guerra do Vietnã, fazer paz e amor), mas que não sabia como fazer, cometendo os mesmos erros das gerações anteriores. O grito de uma geração com muitos desejos é o melhor dessa fase.

No conjunto da sua obra, há grandes, e sombrias, narrativas como Hurricane, baladas simples e sinceras, capazes de tocar o mais bruto dos homens, como I want you, visões do paraíso como Knockin’ on Heaven’s Door, e claro, a famosa Like a Rolling Stone.

Com uma obra vasta (são mais de 50 anos compondo), é difícil acreditar que a qualidade tenha sido mantida em tão alto nível, tendo mudado muito pouco – ao contrário da voz do próprio Bob Dylan. Ele já passou por muitas fases: a era folk (mais metafórica, dado à parábolas), a da contracultura, a faroeste e a religiosa (considerada a pior de todas, mas mesmo assim capaz de criar peças de um lirismo e angústia incríveis). Todas elas têm sua particularidade ao mesmo tempo em que são Bob Dylan. Sua assinatura nas canções é um traço flexivo sem ser pedante, lirismo bem adestrado para caber, quase sempre, numa faixa de quatro minutos e meio.

Não é à toa que muitos vêm estudando sua obra há pelo menos uma década. O grupo de críticos e teóricos que tenta introduzir a apreciação de sua obra nas escolas cresce. Quem sabe estudar Bob Dylan lado a lado dos grandes poetas americanos do século XX, como William Carlos Williams, T. S. Elliot e outros, faria com que o estudo da Literatura, em especial da poesia, ficasse mais interessante, mostrando que ela pode estar em todos os lugares, mesmo naqueles em que não se espera encontrá-la.

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