Brasil, um país de leitores, comece hoje – Vilto Reis

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“Um país se faz com homens e livros”.
Monteiro Lobato

Apesar de tudo, conheço um monte de leitores.

Este é o momento para derrubar um mito; e se propor a construir outros, afinal precisamos deles, como defenderia Joseph Campbell.

Quem de nós já não ouviu que “brasileiro não lê”? Que o Brasil é o país do futebol, do samba, do carnaval. Ei, mas espera aí, por que não o país da literatura? A pergunta me expõe a uma plateia boquiaberta, mas eu a faço, pois até os gringos já estão reconhecendo. Ah, você não sabia disso? Então eu ouço alguém apontar a justificativa que o Brasil é o país do momento lá fora, que é apenas moda, que ser país homenageado na Feira de Frankfurt é apenas um fator político. E eu respondo que não. Não estou equivocado. A Folha publicou um artigo em que o professor irlandês Brian Boyd afirma que se Machado de Assis fosse mais conhecido em seu tempo, teria influenciado escritores como Vladimir Nabokov e James Joyce; apenas para citar um exemplo.

Exato, nossa importância literária não é de hoje.

Se um país se faz de homens e de livros, somos um país forte.

Contudo, nossos clássicos são fantasmas que assombram uma discussão, “academia X público”. A miserável afirmativa que “o brasileiro não lê” – potencializada pela substituição da palavra “brasileiro” por “jovens brasileiros” – ganha força diante da supervalorização dos nossos clássicos. Há um preconceito elitista em relação às leituras do momento, como se alguém fosse obrigado a buscar os clássicos que nem mesmo os papas acadêmicos, em anos de estudo, conseguiram interpretar. Há uma forte prerrogativa de autoafirmação intelectual ao defender certo tipo de literatura, em detrimento de outro. Tzvetan Todorov, crítico literário russo, defende que “Literatura não é Teoria, é Paixão”. Em entrevista à Bravo, ele afirmou que a escola deveria ser um espaço de apaixonar-se pela literatura.

Então mais do que um país de pessoas que leem, estes leitores ainda vencem a crítica acadêmica, escolhem o que querem ler; e deslizam pelas páginas , viajando pelo mundo da literatura.

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Mas por que é tão importante que os brasileiros leiam?

Grosso modo, pergunte o que um livro representa para uma pessoa que passa fome; e ela responderá que não significa nada. Mas então por que os seres humanos leem? Por que passar horas com um livro na mão?

Minha resposta é: para ser modificado.

Mário Quintana expressa isso de melhor forma: “Os livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas”.

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É por isso que é importante derrubarmos o mito de o Brasil não ser um país de leitores. Não só somos, como também nossos escritores se destacam, não devendo a outros de qualquer outro país. Temos pouco mais de quinhentos anos, e mesmo com todos os problemas da nossa colonização, da industrialização tardia, da educação, conseguimos nos superar.

Há muita gente que não lê? Sim, mas ainda há tempo. Brasil, um país de leitores, comece hoje.

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