Breves comentários sobre a crítica, tão demolidora e construtora – às vezes ao mesmo tempo – e justo por isso tão necessária à nossa época
Desde muito cedo, somos expostos aos olhares do mundo. As crianças são elogiadas e reprovadas por seus familiares. Os professores atribuem notas e critérios. Os amigos apoiam e condenam atitudes. Tomar posicionamentos, numa sociedade tão julgadora, é sempre muito difícil. A crítica é necessária, e mesmo inevitável. Num primeiro momento, ela tende a ser tomada como um ataque pessoal. Num segundo momento, deve ser analisada e filtrada para servir ao crescimento profissional.
No campo da literatura, podemos destacar três tipos de crítica: a informal, feita por blogueiros e youtubers, levando em consideração a partilha de experiências; a jornalística, que tem por objetivo a divulgação da obra; e a acadêmica, que se propõe a tecer uma análise mais formal do livro, tomando-o como objeto de estudo. Todas têm sua validade e devem ser consideradas dentro do contexto em que se encontram.
A crítica literária corre risco constante de cair no subjetivismo. É delicado separar a opinião pessoal do julgamento formal. Nelson Rodrigues considerava impossível a imparcialidade. No caso dos comentaristas de internet, a distinção parece menos relevante. Para eles, é possível comentar de modo mais pessoal uma obra e dialogar diretamente com o público. A crítica jornalística pode se relacionar à promoção de determinado livro / autor / editora e à formação de um público leitor; os objetivos seriam sobretudo mercadológicos, numa perspectiva que considera o livro como produto de venda. Já a academia atribui à literatura um valor mais cultural e histórico, às vezes chegando a elevar o cânone ao status do sagrado. A impessoalidade é exigida nesse tipo de crítica, apesar de os discursos por vezes se tornarem inflamados.
Vale lembrar que existe a crítica à própria crítica. Num mundo cada vez mais globalizado, em que todos se sentem no direito, ou mesmo na obrigação, de opinar sobre qualquer assunto a todo momento, comentários e réplicas se apresentam quase que simultaneamente. A própria validade da crítica oficial é posta à prova. A escrita acadêmica é considerada engessada, a jornalística, publicitária, enquanto a informal parece predominar e atingir a maior parte dos leitores, que se sentem mais à vontade para se expressar entre seus pares.
Cabe à crítica formal adaptar-se aos novos tempos, modernizar-se e difundir-se para alcançar um público maior. Aos poucos, a academia vem se abrindo ao estudo de best-sellers e mesmo à publicação de romances como tese. A internet tem um papel fundamental na atualização do fazer crítico literário, seja pela disponibilização de textos para download, seja pela publicação de pareceres críticos.
A crítica exige muita coragem, discernimento e uma boa pesquisa para quem se propõe a fazê-la, assim como bom senso e abertura de espírito por parte de quem a recebe. É preciso não ter medo da crítica – tanto de expô-la quanto de acolhê-la – e encará-la como um complemento de leitura, um retorno sobre a obra e um alimento para a produção artística. Assim, nos tornamos mais conscientes sobre o que lemos ou escrevemos – lembrando que a mais importante das críticas é, sem dúvida, a autocrítica.