O Caio Castro disse que não gosta de teatro e literatura. E a sister do Big Brother Brasil 14 não sabia quem era Dom Casmurro. A classe artística chiou e os internautas colocaram um par de orelhas de burro na mocinha, que é uma gracinha por sinal. Tudo se deve ao espírito do tempo. Nos dias correntes, bródi, por qual cargas d’ água um jovem ator em ascensão deveria perder o seu tempo indo ao teatro ou lendo um livro, se não se interessar por essas coisinhas não o impediu de alcançar a fama? Por que alguém deveria lembrar a alcunha de um personagem, um tanto neurótico, de um livro escrito em 1899 e publicado no ano seguinte?
Se ninguém mais duvida que 1984 do George Orwell chegou com tudo (embora com algumas décadas de atraso), a distopia escrita por Ray Bradbury, Fahrenheit 451, é cada vez menos um pesadelo distante. Em 1953, o escritor norte-americano profetizou o surgimento de uma sociedade “futurista” onde ler era proibido e os bombeiros possuíam a missão de encontrar e queimar livros – 451º F era a temperatura em que nossos adoráveis amigos entravam em combustão, o equivalente a 232º Celsius, aqui abaixo da linha Equador.
A imposição veio do governo, mas as pessoas não se importavam de não lerem mais. Elas não gostavam dos livros, pois temiam que as fizessem pensar, o que normalmente as entristecia – imaginem o mal que faria O lobo da estepe, do Hermann Hesse. Tu sabes muito bem, bródi: ignorância e felicidade andam lado a lado. Para compensar a ausência de qualquer tipo de leitura, as pessoas se entretinham com grandes televisores espalhados por toda a casa, além de divertimentos cretinos. Bradbury chegou a dizer que a história era mais sobre como a televisão destrói o interesse em ler livros do que censura ou autoritarismo. Na verdade, ele fez uma declaração de amor aos livros e à literatura.
Montag, o protagonista do romance, é um bombeiro orgulhoso de sua função. “É um bom trabalho. Segunda-feira queimar Millay, quarta-feira Whitman, sexta-feira Faulkner, transformá-los em cinzas, e depois queimar as cinzas. É o nosso estribilho oficial”, vangloria-se. Tudo ia bem até o dia em que ele conhece a jovem Clarisse. “Raramente olho para a televisão mural, nunca vou às corridas ou aos parques de atrações. Por isso tenho muito tempo para pensar ideias esquisitas”, diz a menina. A partir desse encontro, Montag nunca mais seria o mesmo. Ele passa a questionar a vida que leva com a esposa, Mildred, e tudo que o cerca. O estopim chega quando uma senhora prefere morrer queimada com os livros, que mantém escondidos, do que se entregar às autoridades.
Depois desse episódio, o Capitão Beatty, chefe dos bombeiros, tenta apaziguar os ânimos de Montag e explica como a sociedade se tornou daquela maneira. “A escolaridade é abreviada, a disciplina relaxada, as filosofias, as histórias, as línguas são abolidas, gramática e ortografia pouco a pouco negligenciadas, e, por fim, quase totalmente ignoradas. A vida é imediata, o emprego é que conta, o prazer está por toda parte depois do trabalho. Por que aprender alguma coisa além de apertar botões, acionar interruptores, ajustar parafusos e porcas?”
É bródi: será apenas mera coincidência?