Bzzzzzzzz – Diogo Marins Locci

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São muitos olhos e muitas asas para que tenhamos dó. São barulhos impertinentes e constantes. Barulhos das asas, do volteio, do incômodo. São ferrões e boquinhas medonhas. São muitos. Parecem infinitos. E é por isso que não nos importamos em matar insetos.

Esmago um pernilongo com uma só de minhas mãos, pegando-o no ar e desfechando o seu voo, tendo na palma um corpo destroçado e um rastro de sangue – provável que seja meu – que foi injetado para sustento dos voos alucinantes. O pouco corpo dá ideia de nenhuma dor. O alimento de muitos insetos é invasivo. Envolve a nós mesmos e também as nossas coisas. Nossos livros e móveis, nossas frutas e doces. Envolve o conteúdo do que lutamos para ter. E é por isso que não nos importamos em matar insetos.

Suas vidas são ciganas. Seus movimentos, tenebrosos. Suas patas, ágeis. Os insetos não temem os homens, mas são quatrocentas mil vezes menores do que eles. Os insetos não tem carne, não devem ter gosto bom, não sustentam, não ajudam e muito atrapalham. E é por isso que não nos importamos em matar insetos.

As vacas têm bom sabor na América e sagração na Índia. Os répteis equilibram a fauna. Os cachorros foram obrigados a se tornarem nossos amigos e os gatos travam suas lutas até hoje para voltarem às suas origens. As abelhas dão mel, mas longe das suas colmeias e dos apicultores, esgueiram seus corpos peludos e listrados no açúcar restante de nossos sucos até que, em um instinto mortífero, colocamos um guardanapo ou um copo vazio de maior diâmetro para prendê-las e rir das suas tentativas de escapar do copo. É provável que sintamos prazer em dominar uma das manifestações mais populosas da natureza. E é por isso que não nos importamos em matar os insetos.

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