Câmara dos boçais: os dois lados da ditadura

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Muitos assistiram a um circo de horror no último domingo. Duas faces, e dois discursos de ódio. Melhor relembrar a cena para que possamos pensar juntos esta questão. Antecipando: de um lado Jair Bolsonaro, de outro Jean Wyllys.

Desde o começo então. A sessão se dá no domingo, dia de descanso do plenário, dia habitual das famílias se reunirem ao Faustão, à Netflix, e os literatus seguirem lendo. Tal data deixava claro que a câmara desejava plateia, a votação deveria ser um show. Como tal, foi marcado. Um excelente horário em que a maioria da população estaria livre para assistir os gladiadores na arena. Não entro no mérito, ou legitimidade do processo, ou golpe como creem alguns. Isso pode ser assunto para outra crônica. Te pergunto sem esperar resposta quem era teu representante lá? Pois é, se for nenhum ou quase, em meio às centenas, estamos juntos nesta conversa.

“…pela memória do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff” – Disse ele, Jair Bolsonaro. Não irei debater o restante da fala. Este ponto marca o ódio. A tortura não era apenas um meio de adquirir informações, também visava destruir a integridade do sujeito. Conheci pessoalmente uma vítima de torturada durante a ditadura. Ouvi seu testemunho mais de uma vez. Não há como negar, este processo muda uma pessoa. Ela teve que passar por anos de terapia, para poder se reintegrar. Também conheci uma vítima de estupro, “me colocaram no camburão e fizeram o que quiseram comigo, afinal eu era uma subversiva”. Detalhe, ela sequer era subversiva, apenas havia se enrolado na bandeira para fugir de um trote, mas naquela época bastava uma fagulha. Fora os testemunhos popularmente conhecidos. Não sou o mais libertário dos sujeitos, longe disso, mas a cultura do medo e da tortura, não cabem, não há como defendê-la. Alguns dirão:  “se tratava de uma guerra”, daí lhes pergunto o que os diferencia do “monstro” que combatiam chamado comunismo? E é isso que Bolsonaro defende, um levante daquilo que queremos distância.

“Rutchu” ou qualquer outra onomatopeia que represente um cuspe, foi o que fez Jean Wyllys. O que tal atitude demonstra em meio a uma votação? Tão baixa quanto a fala do Bolsonaro foi esta atitude. Incapaz de argumentar e saber perder uma votação. É um ato de pleno desrespeito, ultraje, falta de decoro. Em sua defesa, JW disse que Bolsonaro o segurou pelo braço. Enfim, é atitude de quem não busca a democracia, quem não está nem aí para ela e busca uma ditadura. No caso de JW, socialista. Visa a ditadura do proletariado. Não há como implantar o socialismo sem que haja uso da força. O socialismo não respeita as liberdades individuais, nem de expressão e pensamento, nem de crença religiosa, muito menos de propriedade. Quem curte literatura, então, sofreria dobrado, teria um amor restrito. Como deputado, tenta englobar qualquer discurso contrário como sendo “discurso de ódio”, “machista” e “homofóbico”. Imaginem o regime que buscam implantar. Tendo um partido com base teórica próxima ao Stalinismo, embora possua “liberdade” no nome, sabemos que quer construir o oposto. Quando cito Stalin, gostaria que pesquisassem sobre a Ucrânia e como ele matou seus opositores por lá de fome. O que Fidel e Guevara fizeram com seus opositores por aqui também pode nortear a vossa visão. Dizem que para construir uma ditadura do proletariado é necessária a morte de em torno de 10% da população. Acho que a Coréia do Norte já deve ter passado disso há tempos. Logo, sempre que olho para Jean sinto saudades de Clodovil, este sim sabia comunicar, e se posicionar como gay, cativando o respeito de todos, em vez de promover a ira.

Com atitudes como essas no plenário: Bolsonaro promove Jean e Jean promove Bolsonaro, tanto quanto se enfrentam mais se alimentam mutuamente em suas polêmicas, maior mídia geram e suas fileiras de apoiadores engrossam. E nós que buscamos uma postura equilibrada no meio desse tiroteio sem sentido, temos que assistir com asco tais atitudes. Infelizmente, o palhaço do planalto parece estar com fala e postura mais séria que seus companheiros que insistem em destruir o Brasil.

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