Não pense, chame ‘O próximo da fila’

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Não faça perguntas, mande o próximo que a fila está grande!

Henrique Rodrigues / foto: blog da Record
Henrique Rodrigues / foto: blog da Record

– O próximo!
A frase nem precisa ser falada, de tão colada em nosso cotidiano. Se tornou uma dessas expressões automáticas, a pessoa atendida faz seu pedido, sai da fila e às vezes o funcionário de dentro do balcão balança a cabeça em sinal de ‘venha’. É, tem um nome ali no crachá, o logotipo da empresa berrando no uniforme e no boné, os gestos mecânicos decorados repetidos de novo, mas não dá para perguntar muito e manda O Próximo da Fila que a fome e a fila são grandes.

Nesta estreia de Henrique Rodrigues no romance, acompanhamos um protagonista sem nome, tão inominado quanto os demais: vive com a mãe e o pai, com quem se dá bem apesar das típicas brigas de família,  e atura uma tia inconveniente metida a moralista, mas passa. Nosso protagonista é um rapaz ainda no colégio, sem grandes ambições; e leva um choque com a morte repentina do pai.

Como se o buraco não bastasse, mudanças em casa também abalam sua vida. A escola não o incomoda (muito), a relação com a mãe fica um pouco ambígua – ainda que aos nossos olhos de leitores -, pois mesmo não cobrando do filho ações para ajudar em casa ela se fecha demais em si, devido à carga auto-imposta de trabalhos e cuidados domésticos.

A vida do protagonista muda de novo quando ele consegue um emprego como atendente em uma filial de uma rede de fast foods. Ali ele aprende como seguir o ‘padrão’ pomposamente repetido pela chefia, as manias dos colegas, desde o mais tagarela ao mais revoltado do grupo, pisa noutros cantos além da sua função e sente o quanto uma nova posição, mesmo sem ter ganho e prestígio reais, desperta a inveja dos colegas.

o proximo da filaÉ onde o protagonista aprende sobre a sociedade mesmo sem plena consciência disso; como os vínculos podem ser frágeis, desde o sumiço de gente acusada de infração e quem é aliado ou oponente em um ambiente pequeno de grandes rivalidades. E também onde conhece uma cliente muito particular, com quem passa a conversar fora da lanchonete e até a namorar por um tempo, incluindo-a em sua vida e casa – para ser abandonado em meio a uma visita a velhas fotografias, reveladoras de uma trama que pesa diretamente sobre ambos.
Há referências sutis à década de 1990, na qual o romance é ambientado, mas não impedem a compreensão do enredo por quem era muito novo na época ou não a viveu. Em uma comparação grosseira poderíamos trocar essas referências por detalhes da nossa época e teríamos quase a mesma história, pois apesar das menções àquela década o livro trata de questões atemporais, que cabem em uma conversa até um de nós ser O Próximo da Fila.

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